quarta-feira, dezembro 31, 2003

Deus prefere os suicidas.

Me lembrei de repente de uma história muito triste. Sim, eu tenho uma atração masoquista por tudo que é triste; sou uma pessoa alegre e risonha, mas minha melancolia fica sempre ali, a espreita.
Hoje tomei umas cervejas, está uma noite amazônica e juntando Interpol aqui estou eu me lembrando de histórias tristes.
Eu não me lembro do nome do rapaz, mas era um nome desses de garotos de classe média, Thiago, Felipe ou Matheus, acho que era Marcelo...isso, Marcelo. Era amigo de uma amiga próxima.
Marcelo com seus vinte e quatro anos estava farto de ser um problema para sua família, pois era assim que ele se via, e após mais uma internação em uma clínica para dependentes químicos, fracassada como as anteriores, ele decidiu mudar tudo, iria fazer uma viagem até o Chapada Diamantina para conhecer a Cachoeira da Fumaça e realizar seus sonhos.
Sua família viu aquela viagem com bons olhos e Marcelo investiu em sua tentativa com tudo, partindo com um grupo de mochileiros. Após alguns dias de viagem e trekking ele estava prestes a realizar seus sonhos, era assim que ele se via. Estava ansioso.
Naquela manhã de domingo Marcelo acordou ainda na madrugada para fazer o último trecho sozinho, sendo o primeiro a chegar no topo da cachoeira e ver o Sol nascer. Chegando lá teve tempo de descansar e escrever uma carta a seus pais. Ele os amava apesar de tudo e chorou desesperadamente enquanto escrevia aquelas poucas palavras, mas estava feliz no fundo de seu coração por tudo de bom que viria.
Levantou-se, e olhando para o Sol que brilhava entre a neblina correu rumo ao penhasco desejando em seu coração que tudo começasse novamente, para ele poder fazer tudo diferente.
Pulou, e ninguém viu aquele espetacular salto; ele não gritou e chegou ao fundo de sua vida acreditando que seus desejos seriam realizados. Saltando da Cachoeira da Fumaça no nascer do Sol.
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domingo, dezembro 28, 2003

Muitos respeitos.

Desejo a todos amigos/leitores tudo de bom neste próximo ano.
Muita coragem e disposição pra continuar de pé nesta loucura que é a nossa vida, muita saúde pra aguentar a bebida e todas as porcarias que comemos junto com cerveja, muito jogo de cintura pra ficar numa boa com as namoradas(os), esposas(os) e ex-qualquer coisa que ficam azarando nossas cabeças.
Muitos respeitos para todos meus amigos interesseiros que só me procuram quando estão na merda. Muitos respeitos para meus amigos de longe que nunca sabem se estou vivo ou morto por falta de notícias, para todo mundo que me atura, e que suporta meu mal-humor e minhas chatices.
Muitos respeitos pra minha família que não tem muita escolha senão deixar as coisas como estão(cunhado não é parente!hehehe). Muitos respeitos pra todo mundo que está ou esteve puto comigo, fazer o que?, entra na fila!!!
Ano que vem tudo vai ser melhor!!!
Ano que vem tudo vai ser melhor!!!
Ano que vem tudo vai ser muito melhor!!!
Amo vocês!!!
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sábado, dezembro 20, 2003

Amizades por aí.

Tenho ficado mais sucegado nestes dias, mas não é por opção; minha principal companheira de copo está fora, Lara foi pra Argentina, e espero de coração que ela se divirta e tope com um argentino daqueles, cabeludo e escroto, e faça o diabo por lá. Sei que cometo um sacrilégio aqui, mas os argentinos que conheci sempre me pareceram muito com os cariocas, com uma certa indolência e maneirismos, talvez por isso se odeiem mutuamente. só pode haver um!
Sozinho assim, não me animo a beber, é uma solidão que não me permito. O cigarro e o café são companhias indiferentes e sutí­s, mas ocupam seu lugar, já a bebida necessita de uma presença a mais para que o alcool possa cumprir o seu papél transcendente e libertador.
Lara é uma excelente companhia, pois logo que está "alta" tudo fica mais claro e pungente, as nossas verdades se tornam mais palpáveis e a dor e o isolamento são motivo de riso e escárnio.
Em uma das vezes em que estávamos a beber( cachaça com cerveja), ela me contava sobre sua análise e de como aquilo era difícil e doloroso pra ela, como um parto, só que no lugar do recém-nascido, em que você vai sendo arrastado para fora de seu mundo seguro e tendo contato com outras realidades, novas porém aterradoras; e ela me contou sobre sua solidão e sua orfandade.
E ela ali a minha frente era como a pessoa mais solitária do mundo...sem alto indulgência, sem "síndrome de coitadinha", somente uma realidade nua e inegável que é a solidão do ser humano.
E a bebida, magicamente, tornou aquele momento em um momento de libertação e desapego pois aquelas verdades foram ditas com os olhos abertos, com o coração em chamas, e a tristeza não teve lugar entre nós dois, pois estávamos ali juntos, embriagados de amizade e de excitação por termos uma vida inteira em branco pela frente, sem passado e sem futuro.
Somente um grande momento, de brilho e vontade.
Agora espero que ela traga,ao menos,uma garrafinha de vinho para mim!

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Retratos de pessoas mortas: Alice.

Hoje foi enterrada Alice Nogueira, ou como eu a conhecia Dona Alice.
Tinha 87 anos e vivia há 14 sobre uma cama, seqüelada por um derrame cerebral e semi-consciente do mundo ao seu redor. Posso dizer que suas únicas formas de interação com o mundo externo eram através das privações que sofremos no dia-a-dia como a fome e a dor.
Ela morreu a minha frente e fui testemunha de seus últimos suspiros(como diziam meus avós) e posso dizer que isso é um privilégio, assistir a morte das pessoas.Seus filhos não estavam ali, nem netos e nenhum parente presenciou o momento culminate de sua vida;sua partida deste mundo.
São ossos do meu ofício, a vida e a morte. E há algo de tão sagrado nesses dois extremos que eles se tornam como um só momento, um só milagre, pois toda a perspectiva do viver muda quando alguém nasce ou morre, tudo se torna brutalmente relativo e, ouso dizer, metafísico,pois algo se move dentro de nós, quando alguém morre em nossos braços, algo diz:" Você está vendo isto? Tal é o seu destino."
E como não mudar frente a tão franca conselheira, tão doce e próxima amiga que é a morte?!
Já presenciei a morte de inúmeras pessoas, anônimos e queridos, e digo que não a nada mais lindo, triste e verdadeiro que isso. Amar algo que tem fim, desejar algo que não vai durar para sempre, querer aquilo que não é certo.
Muito obrigado, Dona Alice.
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sexta-feira, dezembro 12, 2003

Cinco pessoas que não deveriam ter morrido:

1. Ian Curtis.
2. Akira Kurosawa.
3. Chico Science.
4. Kurt Cobain.
5. Jobim e Vinícius( vou considerá-los uma pessoa, me desculpem)
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quarta-feira, dezembro 10, 2003

Meia dúvida me vale mais que qualquer verdade.

No último sábado estava em um casamento( de um grande amigo e fui até padrinho), e lá encontrei com várias pessoas que não me viam há tempos, dentre eles o Fábio, que é a pessoa que mais se enquandra naquela definição romântica do herói bêbado, do filósofo de botequim, no melhor sentido possível.
Assim que nos vimos ele logo disparou: "E aí Frederico, quais são suas verdades do momento?"
E aqui faço um pequeno parêntese, pois ele já estava bêbado e não havia sequer meia hora que ele havia chegado, e é justamente isso que mais invejo nele, a capacidade de chegar bêbado aos lugares sem que as pessoas notem ou que isso deponha demasiado sobre sua imagem, já que ele "quase" sempre mantém uma claresa no raciocínio e uma capacidade de articular suas idéias, que simplesmente não consigo entender, pois como a maioria dos homens retrocedo para um estado semi-simiesco após a primeira meia dúzia de cervejas, e não é raro dar alguns vexames...
Mas após sua pergunta e seu olhar mais que desafiador(faziam praticamente uns dois anos que não nos víamos e ele fora padrinho de meu casamento defunto), eu lhe disse com a voz meio pastosa: " Não troco meia dúvida por qualquer verdade que você tenha aí, escondida no seu bolso!" E ele se jogou em meus braços me dando um daqueles abraços de irmão, e me beijou no rosto!
"Finalmente, ele disse, você se perdeu! Bem vindo ao clube, bem vindo a liberdade de viver sem destino!"
E continuamos bebendo, e eu nos ví como dois santos beberrões de Nelson Rodrigues, além de quaisquer limites alto impostos, além de quaisquer papéis sociais, bem vestidos e nos lixando com a providência divina.
E eu fui me esquecendo do tempo em que eu tinha todas as respostas...não bebia...não conhecia o budismo...fui esquecendo de mim e me misturando com o gelo e o Ballantines a minha frente. me envie um e-mail

Coisas simples são assim.

Estou começando a acreditar mais em mim. Também depois de todas as mudanças pelas quais venho passando nesses últimos meses, as coisas tinham que surtir em alguma coisa.
Minha médica ainda não me deu alta, mas não tomo mais o Prozac e nem o Rivotril, e até que me sinto bem, embora às vezes eu tenha a impressão que estou abandonando bons amigos; coisa mais estranha desenvolver afeto por medicações, mas sei que não sou o único.
Tenho um amigo que quando soube que a Ritalina foi proibída pelo FDA, correu nas farmácias pra comprar a maior quantidade que fosse possível estocar, não por vício mas por um tipo de carinho que ele desenvolveu pela droga, e quando a data de validade de suas queridinhas estava chegando ao fim ele simplesmente as dividiu com os amigos. Eu fui um dos privilegiados a tomá-las com cerveja, e até que não era ruim, tirando o zumbido no ouvido...
Meus advogados também pararam de me pertubar após a absolvição, aqueles parasitas! E agora não devo mais nada à eles e eles que se explodam. Minha doce irmã que me perdoe mas eu simplesmente não gosto de advogados, e sei que dizer isso é tão estúpido como dizer que odeio todos os esquimós, mas a desvantagem é que eu não conheço nenhum esquimó mas conheço muitos advogados, e continuo não gostando deles. Bem que eles poderiam mudar para a Groenlândia e ir fazer os divórcios dos esquimós!!!hahahaha...isso foi engraçado.
Estou feliz hoje e espero que minha médica não leia minhas cartas velhas de suicídio, pois eu desisti dessa merda de morrer.

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segunda-feira, dezembro 08, 2003

Os nomes que me dão.

Lembro-me que me chamavam de branquelo azedo, magrelo e desajeitado. Minha mãe me chamava de filíco, de fredinho e de filho(simplesmente filho), e isso sempre foi uma das coisas mais bonitas que ouvi na vida.
Pelo telefone, já me chamaram de amor, de querido e de filho da puta, interesseiro e canalha, aproveitador e toda uma série de adjetivos reprováveis. E me chamaram de covarde, filhinho de papai; de corno já me chamaram e de pervertido também.
Uma vez fui chamado de "acochambrador" e só percebi que isso era ruim pelo tom de meu interlocutor. E um amigo me chamava de irônico e cínico e eu só percebia que isso era bom pelo brilho em seus olhos.
Chamaram-me muito de arrogante e metido, e eu sempre tinha um lado melancólico para os que me conhecem mais de perto. De anjo já fui chamado por pessoas desconhecidas e de racista também. E já me apontaram o dedo pra me acusar de crimes que não cometi e para me agradecer por vidas que não salvei.
Poucos me chamam de amigo mas ninguém me chama de inimigo. Poucos me chamaram de meu amor...poucos me chamaram de irmão...uma pessoa me chamou de camarada um minuto antes de cometer suicídio, e isso foi uma acusação inesquecível.
Já me deram muitos nomes, apelidos e xingamentos, mas ninguém nunca me chamou de nada mais lindo do que pai, e de que Frederico Augusto, o nome de um príncipe daqueles de cavalo branco e tudo, saído de um conto de fadas em uma infância perdida.
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quarta-feira, dezembro 03, 2003

Minhas cinco maiores saudades.

1. Dar um beijo de boa noite no meu filho.
2. Minha cachorrinha Diana.
3. Minha irmã Camila que mora longe.
4. Acordar as dez horas pra ver Caverna do Dragão.
5. Da torta de pera da minha ex-mulher.
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