segunda-feira, maio 31, 2004

Cinco coisas para ter sucesso:

1. Acredite em você um minuto por dia.
2. More sozinho.
3. Não seja um gordo preguiçoso que ronca.
4. Não acredite em seus pais.
5. Cara, se cuide, não deixe ninguém cuidar de você.
me envie um e-mail

domingo, maio 23, 2004

Cristina Revisitada.

Ouvi seu nome um dia desses.
Fazia muito, muito tempo. Estava em uma mesa de um bar qualquer, tendo conversas banais com pessoas banais, citaram seu nome e algo sobre um casamento entre fofocas e nulidades. Eles não sabiam de nós ou se esqueceram, pois assim como todo o resto,nós também passamos, principalmente para os outros.
Aquela conversa entrecortada por piadinhas e cacarejos foi aos poucos perdendo seu sentido, se transformando em ruídos e sons disformes, conforme eu me lembrava de Juiz de Fora e de nossa vida juntos.
Lembrava-me especialmente de uma noite em que fomos ao Berthos, você de vermelho e eu de preto, dois “pombinhos” apaixonados e selvagens. Penso que ofendíamos as pessoas com o desespero de nossa paixão, e nossa insistência em tornar explícita toda nossa lascividade. Todos nos olhavam meio de lado e algo desconfiados, como se fossemos pecadores imperdoáveis por sermos tão felizes com tão pouco, por rirmos da vida e sua falta de sentido.
Lembro-me dos sons de nossas botas sobre os paralelepípedos úmidos pelo sereno, e por nos deixarmos molhar sem pressa. No Marraquesh, martinis e alguma boa música enquanto eu me perdia sonhando acordado no fundo de seus olhos.
As noites perfumadas e intermináveis e as maiores trepadas da história humana, que quase derrubavam teu prédio e que nos custaram três camas; Se fossemos delatados pelos seus vizinhos acho que seríamos presos, pois com certeza aquele tesão todo era ilegal, passível de prisão perpétua sem direito a fiança.
Acordar naquela luz amarela do seu quarto, no final da manhã e ficar enrolando na cama até a tarde era algo ligado ao paraíso e suas bênçãos, pois nós dois juntos éramos a perfeição, consagrávamos a salvação da humanidade e jurávamos ali nos amar para todo o resto de nossas vidas e além. E no fim sei que realizamos uma façanha, nos amando até o final do nosso amor, que acabou como todo o resto, que também acabará.
E seu nome voltou a ser citado por aquelas pessoas, fazendo com que toda a realidade voltasse ao seu ritmo novamente, barulhenta e irritante. Monótona e previsível.
Mais nomes, mais risadas e bebidas, pra ajudar a empurrar aquela gente pra dentro.
E eu continuei ali, entre aquelas pessoas banais e seus assuntos banais, tentando ser apenas mais um.
me envie um e-mail

quarta-feira, maio 12, 2004

Todas as manhãs do mundo.

Tudo começa com os olhos de Maria.
São castanhos e grandes e arredondados, ela está maquiada e seus olhos estão com o lápis borrado, todo o resto é algo oitentista, com brilho e lábios molhados e rosados. Sempre fitando o horizonte posso agora ver seu rosto, magro e bronzeado, ela é bonita, porém tem um rosto comum, parece mais com uma menina que estudou com você do que com uma top model anoréxica. Seus cabelos são castanhos claros e na altura do ombro, o vento que começa a soprar os atrapalha e eles caem sobre o rosto, uma pequena franja caindo sobre seus olhos cansados.
Ela está sentada sobre um terraço, tem uma cidade metropolitana a seus pés que começa a fazer seus sons matutinos, sua roupa também se move com o vento, mais forte agora, e ela usa uma bata branca curtinha aberta nas laterais, e conforme o vento sopra vejo suas costelas com parte de uma borboleta tatuada ou algo dos seios conforme sua bata se agita. Uma saia preta deixa suas pernas a mostra, e elas são intermináveis e esguias.
Uma música toca ensurdecedora, guitarras distorcidas e melódicas criando uma atmosfera de tristeza e raiva, é My Bloody Valentine em Loveless, meu disco preferido de todos os tempos.
O céu é púrpuro e as estrelas se parecem com pequenas pedras de estrasse, o Sol nascerá daqui a momentos e a música se torna mais distorcida e angustiada. E toda a atenção é sobre os olhos de Maria
Todas as alegrias e infortúnios humanos estão ali dentro, sua tristeza é a dos que choram escondidos no banho, daqueles de nós que se colocam preteridos na vida, é a solidão inerente a cada ser humano que vive e se sente vivendo. Seus ombros estão tensos e sua respiração arqueja com milhões de respirações e suspiros de despedidas e saudades.
Alguém lá embaixo presente sua presença, e na visão de sua silhueta sente o desamparo de sua posição e se preocupa com uma possível queda, mas ela não cairá hoje.
Quando o primeiro raio de Sol toca seu rosto, seus olhos se fecham súbitos e uma lágrima corre, com um rastro escuro e borrado, a música agora somente apita notas suaves e altas sobre o som estrondoso de vento. E Maria continua com os olhos fechados, com o rosto sendo aquecido pela luz amarela solar. Cada estrela se apaga no céu, cada uma a seu tempo, e o púrpura vai dando lugar a suaves tons azulados e rosados no horizonte.
Eu permaneço em meu lugar, contemplando o mistério dessa mulher que é minha vida e meu amor, seus ombros se relaxam e seus olhos se abrem, agora me procurando até que encontram e sei que tudo continuará existindo, por mais um dia.
Tudo termina com os olhos de Maria, e eles me sorriem agora.
me envie um e-mail

domingo, maio 02, 2004

Minha primeira perda.

Quando eu tinha uns quatro anos, meus pais resolveram adotar uma criança. Meu pai, hippie kardecista, se comoveu com umas crianças órfãs e convenceu minha mãe a adotar uma.
A escolhida foi uma menina chamada Sueli, era um ano mais velha do que eu, magrinha e meio invocada, mas a coisa que eu mais me lembro foi que na primeira vez que ela foi pra minha casa tinha as mãos cheias de feridas, muito mal tratada e órfã de pais vivos, que a haviam abandonado na Fundação. Tive um pouco de nojo, mas aquela fragilidade me conquistou.
Por três meses eu tive uma irmã mais velha, e como éramos crianças acho que brigávamos e tudo, mas tenho recordações boas, embora sejam poucas. Me lembro de andarmos juntos no banco de trás do Opala do meu pai, verde e colossal, e dela me mostrar que sua mão estava boa, somente com casquinhas. Não tive ciúmes típicos da infância, meus pais me contaram que ela precisava de nós, e que nós seríamos a família dela. Tive orgulho deles, e pena daquela menina, que seria minha irmã.
Quando tudo estava pronto para a adoção, os pais dela surgiram do nada e resolveram que a queriam de volta, assim após largá-la naquele “depósito” que rejeitados e crinaças indesejadas. A quiseram de volta simplesmente por vaidade e um orgulho doente, já que afirmaram que ela tinha pais e não seria adotada por uns burgueses quaisquer. Burgueses?!
Ela foi levada pelos pais e nunca mais a vimos, lembro de minha mãe chorando no carro, e meu pai quieto e olhando para frente. Eu estava agora sozinho no banco traseiro e também chorei, mas foi porque minha mãe estava chorando, não entendia aquela coisa adulta de poder e posse.
Queria saber o que foi daquela menina, logo após isso minha mãe engravidou e ganhei uma irmã e depois de cinco anos, mais uma (Carolina e Camila, meus amores). Mas nunca deixei de me perguntar de como seria ter uma irmã mais velha.
Seríamos amigos, estudaríamos na mesma sala, teríamos viajado juntos, e hoje talvez eu já fosse tio. Com certeza hoje eu teria pelo menos mais uma pessoa para amar.
Talvez eu continue amando aquela menina até hoje, magrinha e perebenta, enquanto rezo a deus para que a vida tenha tido ao menos metade do cuidado que meus pais tiveram com ela, naqueles três meses em que tive uma irmã mais velha.
me envie um e-mail