quarta-feira, junho 01, 2005

Um sonhador implacável.

As emoções me mantêm em movimento.
São o vento, as ondas que me sustentam e movem através dessa vida tão intensa.
Um barco solto, a deriva. Um veleiro branquinho e sem ancora, com grandes velas infladas e sem bússola, sem porto. Sim eu sei, eu me amo de verdade.
Mas eu me lembro da tarde em que ela disse que pensava em mim.
Era uma conversa casual, descontraída e cheia de risos e “viagens”, num boteco qualquer. E ela falou que no meio de um filme se lembrou de mim e ficou alegre, porque sabia que eu reagiria da mesma forma que ela, emocionada e tensa de beleza.
Estava caindo uma chuvinha sem vergonha, daquela fininha e gelada que deixa tudo meio indefinido num fim de tarde, entre as luzes amarelas dos postes e dos faróis dos carros, as coisas meio cinzas e tristonhas, as pessoas de cabeça baixa e andando rápido. E ela ficava falando e falando, arrumando os cabelos e me olhando, olhando...A vida inteira estava ali, comprimida naquele momento, a um braço de distância do meu destino.
Fiquei ali sorvendo todos os detalhes daquela hora tão bonita, quando soube que uma pessoa tão cheia de vida perdia alguns momentos de seus dias pensando em mim.
E somos todos iguais, eu sei.
Tão pobres de nós mesmos. Tão atentos aos nossos defeitos e fraquezas, ignorantes da nossa própria vida, que continua passando sempre tão rápida e com os vidros fechados. Porque tanta dificuldade em acreditar que podemos funcionar, em aceitar que temos pelo menos o direito de sonhar que poderemos ainda ser felizes, antes que tudo isso acabe?
Quando me lembro dela eu a imagino no cinema, com aquela luz azulada bonita sobre seu rosto, e de repente, com algumas lágrimas nos olhos, ela se lembra de mim e sorri.
Doce e discreta.
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