quarta-feira, dezembro 30, 2009

Amor, amor, amor.

Chega um dia na vida em que é inevitável se perguntar:

_ Para que tudo isso?

E esse dia chega, geralmente quando já temos cicatrizes, quando os cabelos já estão brancos ou ralos, quando já sofremos um bocado e fizemos sofrer também.

Tenho o hábito, neurótico, de sempre analisar as coisas, de buscar o entendimento de todos os porquês, mesmo quando isso se mostra inútil ou vulgar. Fico ali remoendo as coisas no meu coração, buscando algum sentido, algum controle. Controle é uma palavra chave para todos os neuróticos.

E quantas vezes fazemos de nossos maus hábitos a máscara de nossa personalidade. Um contrasenso masoquista, onde nos confundimos pensando de nós mesmos o pior, nos julgando e condenando de forma implacável e destrutiva. E nisso nos tornamos especialistas, na arte pervertida de nos sabotarmos até a aniquilação de nossa vontade, transformando-nos em fantoches consumistas, intoxicados, viciados em pornografia e vazios e tristes.

Uma vez estava conversando com Rico, meu Guru Psicodélico, e estava lhe dizendo que uma menina perdida e má intencionada estava próxima dele por interesses mesquinhos e lhe disse:

_ Rico, meu filho, ela está se aproveitando de você!

Ele, sorrindo aquele sorrisão de Guru:

_ Meu, que faça bom proveito então.

_ Como assim? Você vai permitir que ela te use?

_ Fred, o que ela está usando, não tem fim, não acaba! E o resto são só coisas materiais sem importância.

_ ???

_ É o meu Amor, o amor infinito de D´us que eu canalizo pra ela, ela pode tirar tudo quanto ela quiser e usar até cansar porque isso, o meu Amor, nunca mais terá fim. Sacou?!

Fiquei ali parado, pasmo, com a visão legitimamente iluminada daquele meu amigo de muitos anos, que de forma singela e transparente fazia de si, ali na minha frente, um propagador do Amor divino.

E eu que sempre me sentia um buscador da verdade, até aquele momento ainda tropeçava desajeitadamente na minha própria vontade de vencer pela força, pela determinação apenas.

E tudo o que eu precisava era de Amor.

“ Não há nada que você possa fazer que não possa ser feito.
Nada que você possa cantar que não possa ser cantado.
Nada que você possa dizer, mas você pode aprender como jogar o jogo.
É fácil!
Não há nada que você possa fazer que não pode ser feito.
Ninguém a quem você possa salvar que não possa ser salvo.
Nada que você pode fazer, mas você pode aprender como ser com o tempo.
É fácil!!!

Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor, amor
Amor é tudo o que você precisa
Amor, amor, amor!”


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quarta-feira, novembro 18, 2009

Verde era sua cor preferida.

Aurora era uma adolescente típica. Isso para uma menina de dezesseis anos que tinha o nome de sua bisavó, do qual ela muito se orgulhava, mas só há pouco tempo, pois sempre tivera vergonha de ter um nome de velha. Empoeirado.

Usava o cabelo comprido, com brincos de pena de pavão que comprou de um hippie gente fina e aquelas saias indianas louconas. Era inteligente, mas preguiçosa, fumava e bebia escondido, mas tinha nojo de cachaça e gostava de meninos, sempre os meninos deixando-a louca e apaixonada.

Escrevia uns poemas sobre golfinhos e viagens, uma evolução do seu nostálgico diária e estava começando a se interessar por fotografia e cinema. Era um clichê. Jovem, entediada e feliz.

E com isso tudo na sua cabeça o local menos provável de se encontra-la era o colégio, com suas caretices e rigores sociais. Como sua família tinha dinheiro, todos a tratavam com cerimônia, o que a deixava mais irritada ainda, com menos vontade de assistir as aulas.

Um dia vagando pela cidade, no interior do estado, enquanto se libertava da matemática, ficou acompanhando laconicamente a montagem de um circo, com sua enorme tenda vermelha remendada. Um daqueles circos do interior, pobres, patéticos. Ela ficou instantaneamente apaixonada. Voltou no dia seguinte e alguns artistas já ensaiavam e a notaram, logicamente. Pois era bonita, e embora largada era rica, e as pessoas que nascem ricas têm aquela aura particular que todos notam, especialmente os famintos.

Havia alguns palhaços, um atirador de facas fajuto, truques com cães amestrados, malabaristas, mas ela não vira o mágico. Será que não tinha mágico? Circo sem mágico não é circo, pensava Aurora.

No terceiro dia ela tomou coragem e perguntou ao domador de poodles se o circo não tinha mágico. Faltava um dia para a estréia e ela não tinha visto nenhum ainda. O domador, que tinha um sotaque do interior do Brasil, disse que tinha mágico sim, e dos bons, mas infelizmente não haveria muitos truques, pois ele estava sem ajudante, já que a sua havia sido internada às pressas com apendicite aguda, o que era uma pena. E nesses três dias, Ramiro, seu nome, havia ficado perambulando pela cidade procurando uma substituta, sem sucesso.

Aurora ficou estática, sua boca ficou seca e sentiu seu coração dando arrancos no seu peito magro. O rapaz falava mas ela não ouvia mais nada, só se via com uma roupa espalhafatosa, sendo cortada ao meio por um homem de cartola e capa preta com forro vermelho.

- Eu quero! Eu topo! Adoro mágica, sempre adorei, sei fazer uns truques com cartas!

E o domador estava sendo sacudido por ela, assustado.

- Calma menina, calma. Espera o Ramiro voltar, e se não tiver arrumado ninguém, você pega a vaga. Já falo logo, que não paga muito hein! Você é de maior, né?

- Mas, claro... Disse ela com seu sorriso encantador número 3. E ele sorriu de volta. Nunca falha.

Após quarenta longos minutos, intermináveis, ela vê chegando um homem magro e alto, com um andar estranho, blusa florida estampada aberta no peito, cabelo preto cheio de goma, um indefectível bigodinho e um cigarro no canto da boca. E a cicatriz, que ia da testa até a bochecha, rasgando o olho esquerdo.

- Seu Ramiro? Sua voz tremia.

- Hum...

- Conseguiu ajudante?

- Tsc. Tsc.

- Então acabou de conseguir!

E quando o homem sorriu, Aurora quase deu um grito de euforia, pois ele tinha a arcada superior coberta de ouro.

Ramiro era muito melhor que o encartolado da sua imaginação.

- Você é maior de idade?

Sorriso número 3 e um brilho dourado em resposta.

Nunca falha.

A conversa foi rápida e ela foi logo vestir sua roupa charmosa para o primeiro ensaio, naquele minuto.

Infelizmente, eles não serravam mulheres ao meio naquele circo, mas havia a levitação e o truque do desaparecimento, com a cortina preta.

Uma das trapezistas, mal humorada com um cigarro na boca, foi levá-la ao vestiário com cheiro de mofo e a única roupa que lhe servia foi um maiô verde, meio puído. Com dezesseis anos ela não era alta mas tinha as pernas compridas e os braços finos e nada lhe ficava bem, mas o maiô até que ficou bacana. Meio enfiado na bunda, mas aquilo era um circo e não uma igreja.

- Eu não gosto dele, sabia?!

-Hein? Perguntou Aurora, com cara de boba.

- O Ramiro, odeio esse povo. Tem parte com o diabo, desconjuro. Por isso a Lúcia ficou doente, todas se fodem uma hora.

- Tá falando do que, porra?

- Do Ramiro, sua burra. Ele é cigano. E fez o sinal da cruz com o cigarro na mão.

Aurora chegou a babar e sua barriga ficou gelada. Um mágico cigano!

- Puta que o pariu! Ganhei na loteria!

Quando foi ensaiar, ela flutuava em êxtase e tudo correu bem. O truque, na verdade, era muito simples, ela se mostrava, sorria, dava uma bela piscadela com seu olho direito e PIMBA! Caía num alçapão e ficava agachada num cubículo esperando a tampa se abrir e TCHARAM! Reaparecia maravilhosa, jogava os cabelos e aplausos, aplausos e assobios.

Ela havia nascido pra isso.

Avisou seus colegas de turma e no dia seguinte o circo ficou lotado de moleques barulhentos. Eles vendiam cerveja barata e cigarros para todos e todo mundo ficava bêbado e fumando, até os poodles estavam com pequenos cigarrinhos sem filtro no canto da boca. Aqueles putinhos empolados!

No segundo dia, seriam só três infelizmente, Aurora tomou fôlego e perguntou para Ramiro se ele era mesmo um cigano.

- É da sua conta? Ele respondeu entre seus dentes dourados.

- Não.

- Então.

- O quê?

- Então cala a boca, menina.

Aurora teve que segurar o choro, com força, coisa que ela odiava fazer, pois sempre lhe dava dor de cabeça.

Arquibancadas lotadas novamente, muita bagunça e adolescentes embriagados. Parecia que a notícia estava se espalhando no colégio, o que não era boa coisa, e isso os obrigou a fazer um bis no seu número de desaparecimento. Ramiro foi à loucura de felicidade.

Depois do circo Aurora ia para sua casa e só fazia esperar pelo dia seguinte, parecia um zumbi, mas um zumbi feliz. Quando chegou ao circo no terceiro dia, avisaram que Ramiro a estava esperando em seu trailer, bateu e ele abriu a porta sério.

- Senta si menina.

Ela se sentou no meio daquela confusão de coisas velhas, fotos amareladas de pessoas estranhas, santos de gesso, velas coloridas e incenso aceso. Parecia algo saído de um filme. Um filme bom com trilha sonora e tudo, música indiana.

Ramiro serviu vinho do porto em uma tacinha de cristal muito delicada e sentando-se ele disse:

- Sou Cigano sim. Mas fui banido.

E em uma hora, enquanto bebiam, ele contou sua história para ela, mostrou suas cicatrizes e a foto da moça morta.

Aurora chorou quieta, suas lágrimas corriam em silêncio, mas por dentro ela queimava com a vida daquele homem.

- Agora você faz parte dessa minha história, Aurora.

- Você pode ler a minha sorte? Você consegue fazer isso, ver o futuro das pessoas?

- Eu sou maldito, Aurora. Eu sei seu futuro, mas não é muito bom. Só vejo as coisas ruins na vida das pessoas, é a maldição.

- Fala.Quantos anos eu tenho?

- Dezesseis.

- Puta que o pariu! Fala logo que o bagulho é legítimo.

- Você não vai se casar, nem terá filhos. Você também não vai ter casa, ou um lar. Vai ficar vagando pelo mundo, sem sossego, pra sempre. Parece até que você tem um pouco do karma do meu povo.

- Caralho.

Suas lágrimas secaram.

- Você tem a boca muito suja, não pega bem. Ele ficara melancólico com as lembranças e a má sorte que lera.

Ela se levantou, tirou o cigarro da boca de Ramiro e lhe deu um beijo, para em seguida dar uma longa tragada no cigarro.

- Você é um cara foda! Muito obrigada!

E naquele último número, enquanto aguardava dentro do cubículo escuro e abafado, agachada, Aurora estava chorando de soluçar.

No seu peito adolescente não cabia tanta emoção.

Sua vida seria maravilhosa, para sempre! Ela tinha certeza agora. Para sempre!

E o alçapão se abre.

Aplausos.

Muitos aplausos.

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quarta-feira, setembro 09, 2009

A Festa.

Essa história é um pouco complicada de se contar, pois o tempo/espaço estava de folga, o que me confunde um pouco o pensamento, mas vou tentar de acordo com algumas coisas que me lembro.

A festa era na casa do Rico. São Paulo, décimo nono andar com varandões e janelões e uma longa vista com prédios luminosos, estradas e trens barulhentos e congestionamento aéreo, além do estacionamento de carrinhos de brinquedo.

Era uma celebração algo religiosa, alguma comemoração pagã com muitos símbolos, chaves e mestres, sem dogmas, mas com um conteúdo espiritual que era cantado e discutido por todos desde as primeiras horas daquela manhã de céu vermelho e Sol branco.

Já está amanhecendo!

Alguém disse e de repente todos falavam e sorriam belos e límpidos sorrisos infantis, mesmo nos rostos mais velhos como o meu. Eu sorria e meu gesto voltava até mim em vários rostos diferentes, sinceros, amigos.

Havia vários grupinhos distintos.

Uns se jogavam ao chão, preguiçosos, relembrando suas vidas de gato e cheios de malícia e gatismo se mexiam em câmera lenta, pra depois saltarem acrobaticamente sobre algum desavisado.

Umas meninas falavam perto de uma janela, e aquelas meninas sabiam mesmo falar! Era demais só ficar ali viajando nos assuntos como fractais, se misturando e se apagando circularmente para depois explodirem em gargalhadas deliciosas, contagiantes, de dar dor na barriga.

E o pessoal da varanda, que tinha o parapeito meio inclinado negativamente. Esses ficavam ali tendo visões do futuro, ou do passado, calmos como santos. Minha menina estava ali e veio até mim mesclada com a paisagem, com um leve sorriso, luminoso e enlouquecedor.

Você está se misturando com tudo! Eu disse, surpreso.

Eu sei...Eu continuo assim...E gesticulou mostrando as dez direções enquanto me abraçava.

Cuidado pra não cair, essa varanda me assusta. Eu disse, ainda neurótico.

Cair pra onde? Entre eu e tudo não há espaço vazio, eu sou tudo. Não se pode cair de uma montanha, lembra? E eu dei um longo grito montanhês e todos gritaram e aplaudiram ou foi só o eco, mas foi lindo!

De repente o céu estava vermelho e alguém disse:

Já está amanhecendo!

Alguma coisa estalava no ar, se esgueirava e nos tocava, quando entrei vi que Rico, o Guru DJ, estava lá sobre suas pickups e a magia que ele fazia corria por toda a cena, instigando e vibrando. Tudo se movia.

Frações de sons minimalistas, vibrações graves e estalidos mecânicos se misturavam às vozes e movimentos rítmicos, a helicópteros e trens e buzinas e

MOTOCAS!!!

E de repente eu estava tocando uma tabla, tão rápido que nem via meus dedos e meu amigo Jafinho estava contando sobre um show de jazz que ele vira e suas palavras eram pura poesia Beat, disparando metralhadoramente sobre nós que gritávamos: Vai, vai! Uhuu! Manda ver irmão! E ele subia nos sofás e atacava-nos com mais palavras e as meninas gritavam e os caras batiam palmas e eu esmurrava aquele cajon com vontade.

Sierra, jogada num canto com seus cabelos de heroína mexicana ficava repetindo, “Eu já sabia, eu já sabia”. E era verdade mesmo, ela sempre soube de tudo.

Mais ou menos nessa hora as coisas ficaram meio confusas, eu fui à cozinha e me perdi e acabei encontrando minha menina lá, solitária, bebendo água como uma deusa e quando fui beber também quase cai dentro da fonte de vidro que era bem maior quando você olhava de perto, me molhei todo rapaz!

Quando voltamos pra sala, abraçados e felizes as coisas estavam mais quietas. Rico estava lá sentado em suas almofadas, fumando o nargile e dando mais uma aula pros meninos, atentos e sublimes, de olhos arregalados. Ele me olhou e deu uma piscadela, acho que com um dos olhos ou sem os olhos, e involuntariamente dei um grito.

UAU!

Dipankara se iluminou assim, ou teria sido Jack Kerouac? Silenciosamente.

Pela janela o céu estava vermelho e alguém disse:

Já está amanhecendo.

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segunda-feira, agosto 24, 2009

Os chineses e a Música.

Aquelas eram tardes e loucas e calourentas, Peter havia se mudado de apartamento após o escândalo com as gêmeas da zona sul e ainda estava todo enrolado entre caixas de papelão, móveis danificados e seu papagaio que estranhava o novo endereço.

Seu trompete estava perdido, não que ele não soubesse onde ele estava, mas havia sido parcialmente destruído na briga com as meninas, tantos foram os golpes desferidos contra ele por uma e depois pela mais nova, ainda mais forte e raivosa que a primeira das irmãs traídas.

Chegava já a noite de quinta e ele teria que conseguir um trompete novo de qualquer forma, pois tinha um compromisso com Erik e a banda e se ele furasse acabaria tomando uma surra do Tony, só que ele certamente bateria mais forte que as meninas, e aquela sua camiseta xadrez indefectível ficaria manchada de sangue. Com aquele seu estilo redneck sulista de araque era bem capaz do canalha ter um soco inglês naquela fivela de cinto com o símbolo dos confederados.

Andava pelo centro da cidade freneticamente perdido entre as ruas suadas e seu desejo ardente de descolar um novo instrumento, mesmo que fosse velho, na exata proporção em que queria evitar ao máximo ter suas costelas quebradas pelas botas sujas de um desordeiro carioca embriagado, e ainda descolaria uma grana, coisa que lhe faria muito bem.

Acendia um cigarro atrás do outro e andava de loja em loja em loja procurando uma pechincha, até que na mão de um chinês, ou coreano, de dentes sujos viu um doce e gasto trompetezinho amarelo e cobre. Seus pistões estavam frouxos, e estava descascado e judiado, pois aquele oriental embora herdasse certamente todas as sabedorias e segredos do oriente e da panela wok, não fazia a menor idéia da mágica que aquela belezinha desgastada poderia produzir em suas mãos. Uma coisa o “china” sabia, o desgraçado, negociar.

A loja era um caos completo, com um milhão de bagulhos empilhados e acumulando poeira. Espadas vagabundas, lanternas de papel, imagens de algum tipo de orixás chineses, budas gordões, tudo uma zona. E o trompetezinho velho ali, esperando por uma recauchutada e um bom bop soprado com força pra ganhar vida novamente.

Quanto custa?

Sim, hihihi...Sim.

Respondeu o velho chinês. Tinha uns óculos tão velhos e sujos e riscados que Peter duvidava que ele via algo na sua frente além de dinheiro.

Quanto custa o trompete? Disse mais alto apontando para o instrumento. Quanto?

E é engraçado como as pessoas gritam para estrangeiros, como se eles fossem entender a língua desde que lhes estourem os tímpanos.

Ah, tlompete? Muito bom tlompete, muito antigo, sim...

Qual o preço dele, por favor? Disse Peter, a beira do desespero, como se ele tivesse dinheiro de verdade, além de uns trocados no bolso.

Ah, o moço esta muito desespelado, né? Gosta muito de tlompete? Gosta muito?

Não estou desespeRado não, só quero saber quanto dinheiro você quer nele...Pelo amor de deus, estou com pressa senhor honorável comedor de arroz...

Ah, blincalhão, né?

...

Está a venda não.

???

Lo Pei não plecisa de dinheilo, Lo Pei tem muito dinheilo já.

Quem é Lo Pei? O dono do trompete? Fala pra ele que eu tenho grana, só me diz o preço porra!

Lo Pei sou eu, moço Peter desespelado, e eu sou o dono do tomplete sim, ele é meu sim e não quelo dinheilo não, dinheilo eu tenho, mas podemos tlocar por outla coisinha. E o “china” deu uma risadinha sinistra, quem fez os pelos das pernas de Peter se arrepiarem da forma mais incomoda.

Mas eu não tenho nada pra trocar...Você sabe meu nome. Porra é essa?

Tem sim, tem sim. Todo mundo tem alguma coisa pla tlocar com velho Lo Pei.

Mas eu só tenho esse relógio sem o ponteiro dos segundos, e nem é novo...

Não! Gritou o chinês e Peter deu um pulo de verdade.

Não, disse com o sorriso macabro. Você já teve algum bichinho quando ela cliança? gatinho, cacholinho?

Tive sim, alguns. Cachorros, por que?

Lembla de algum que gostava muito, que moleu?

que morreu?

sim, sim, moleu.

Tive sim...e de repente Peter se lembrou com toda a força de seu cachorro Bosley, que foi envenenado por um vizinho mau caráter quando ele tinha nove anos, e de como ele ficou triste e de como ele chorou ao enterrá-lo, chorou tanto que os outros meninos da rua ficaram alguns meses o lembrando disso. E aquele sentimento se tornou tão real e presente que Peter chegou a derramar algumas lágrimas pensando em seu cãozinho sozinho lá, enterrado naquele terreno baldio feio, coitadinho do Bosley...

Moço!

O china gritou cutucando Peter no peito, com alguma coisa metálica.

Que foi agora caralho? Peter tinha a voz embargada e o rosto molhado pelo seu choro nostálgico.

Toma, é seu. Pode levar o tlompete Peter, pode tocar seu jazz, toca bastante lápido. Toma, toma.

E ele praticamente empurrou o instrumento na cara de Peter que não estava entendendo lá muita coisa.

Mas você não queria trocar? Eu não te dei nada...

Deu sim, deu coisa boa pla Lo Pei, tão boa quanto tlompete velho tocador de jazz, agola vai embola, vai, vai embola!

E Peter não sabia do que ele estava falando, velho gagá, de qualquer forma pegou seu instrumento e saiu dali meio atônito. E grande foi sua surpresa quando chegou na rua e viu que já havia anoitecido. Seu relógio o informou que estava quase atrasado e xingando velhos palavrões saiu voando para pegar um táxi até a porta do bar, em Copacabana.

Tony estava lá na porta sorrindo como um pitbull sorri olhando pra carne crua e ele entrou rápido com um meio sorriso e no backstage deu uma geral no velho trompete que até estava inteirão.

Tomou um trago e um de seus comparsas da noite, Charuto, o baixista ficou curioso.

Trompete novo magrelo? As minas ficaram com peninha do cafetão?

Ha, que nada meu velho, acabei de trocar esse aqui com um “china” louco lá na Uruguaiana?

China da Uruguaiana?Trocou pelo que? Sua coleção de cuecas usadas, ou seu papagaio?

Se fuder maluco! Troquei lá por alguma coisa...Sei lá, foi meio estranho, o “china” me fez umas perguntas, mas nem me lembro o que foi, estranho...Deu um gole do Jack.

Só sei que tô com essa belezinha aqui na mão e depois da session, vou estar com aquela morena lá da mesa dois nos braços, quer apostar?

Mas tu é muito filho da puta mesmo, aquele mina é do Espeto.

Azar o dele então, hehehehe...

E Peter foi e tocou forte e rápido e roubou a garota e se sentia bem, como se alguma coisa triste tivesse sumido de seu coração, alguma parte dele que não lhe pertencia mais.


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quarta-feira, junho 17, 2009

Eu também chego lá um dia.

,Um pouco de confusão pode te ajudar a pensar melhor na vida, assim como dizem que conhecendo a dor e sofrimento na vida dos outros pode nos ajudar a valorizar mais a nossa vida e a nossa existência cheia de pequenos problemas e adversidades alto infligidas.

Estou sempre um pouco confuso, um pouco certo das coisas que quero pra mim e mais ou menos certo do rumo que minha vida tem que seguir afim de que eu seja feliz junto aos meus, mas tudo assim mesmo, mais ou menos alguma coisa.

Estou ouvindo Ravi Shankar junto com George Harrison (meu Beatle preferido) e vou acender um incenso e já volto...

Agora sim, bem do jeito que gosto.

Estou passando por uma nova revolução religiosa na minha vida, nada nova, pelo contrário, um retorno a minha fé antiga, minhas vontades antigas de ser algum tipo de santo, de ajudar as pessoas, sabe?! Cultivando mais fé dentro do meu coração e mostrando isso às pessoas com um jeito tranqüilo e pacífico de ser, tranqüilo e pacífico do meu jeito louco/desesperado, lógico.

Vamos ser diferentes e cada vez mais diferentes dos outros, a ponto de ninguém notar que nem somos mais deste planeta, vivendo a vida simples com todos seus pequenos momentos iluminados, tomando um vinho com a Luiza ou um chá do Ceilão com o Betinho e nos divertindo cuidando do canteiro de ervas, e uns dos outros, ou dando uma faxina na casa.

Vamos nesse momento fazer uma coisa que poucos ousam: Acreditar no futuro e buscar a felicidade junto aos pequenos sonhos, sendo livres e alegres...

Adoro a minha vida, que bom estar vivo, quanta alegria...AH, quanta alegria...


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segunda-feira, maio 04, 2009

Por falar em música.

Hoje pela manhã(as 07:00h) estava levando a Luiza para o trabalho, antes de voltar pra casa pois não trabalho as segundas, por enquanto, e num ímpeto saudosista peguei o cd Treasures do Cocteau Twins., clássico da gravadora inglesa 4AD de 1984!!!

Depois de me achar um velho enrugado por conhecer essas coisas, estava pensando na surpresa e no assombro de ouvir esse disco pela primeira vez, no vinil é claro e num daqueles aparelhos três em um bem toscos, mas que eram a nossa alegria: disco, toca fitas( o meu tinha dois, o que possibilitava COPIAR as fitas!!!) e radio AM/FM, demais cara!

      Era um som muito bom mesmo, e estava pensando, será que alguém ainda gosta de Cocteau Twins? Com suas vozes femininas etéreas, melodias simples, porém bem arranjadas e um contra baixo pós punk?

E olha que não sou nem um pouco o tipo nostálgico que fica pensando: “Ah, menina na minha época é que era bom...”, acho isso uma babozeira completa, pois ninguém tinha grana pra comprar os discos importados que eram uma fortuna, não havia troca de música por nenhum meio que não fossem as fitas que eram cópias de cópias de cópias, que chiavam tanto, mas tanto que você não sabia se eram efeitos sonoros ou só tosqueira mesmo. E nunca havia shows, e eram poucas as festas legais, mas a maioria era em lugares estranhos e com gente mais estranha ainda, era bem entediante na maior parte do tempo.

Mas me parece que ainda gostam de Cocteau Twins, pois conheci uma banda bem legal chamada The Big Pink, que não por acaso também é da 4AD, que manda lá um som bem atual, mas que mostra suas origens oitentistas sem ser “pela saco”. E segundo o NME é uma das promessas para 2009, uau!

Tudo vai e volta, e nisso aí algumas coisas boas nos alegram novamente.

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sexta-feira, abril 24, 2009

5 coisas que os indies também fazem, mas do jeito deles.

1. desejam feliz ano novo, mas vomitam 15 minutos depois aquelas 4 latinhas de cerveja que beberam.
2. fazem sauna, mas não aguentam muito tempo.
3. jogam bola, mas não correm.
4. fazem churrasco, mas não levam carvão. suja muito, né?!
5. fumam maconha, e tragam e tudo, mas fingem que não gostam.

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segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Uma surpresa depois da curva.

Às vezes ainda me surpreendo concatenando sobre a natureza da minha vida, e sobre minhas escolhas. Não sobre a vida em si, mas sobre sua “natureza”, seu modo, suas nuances.

E como disse Fernando Pessoa, isso pode ser apenas o resultado de uma indisposição digestiva, ou tédio, ou inquietação psicanalítica, ou qualquer outra coisa.

Mas me pego discutindo acaloradamente sobre as certezas e sobre as incertezas da minha cabeça e acabo defendendo as últimas! Quase aos berros digo que não sei, e tento convencer o outro do que desconheço, e do meu direito de desconhecê-lo com toda a legitimidade de minha vida adulta e de minha calvície galopante. E isso me soa estranho, quase surreal alguns minutos depois.

Pois as pessoas discutem, divergem, tentando mostrar ou mesmo impor uma opinião, um conhecimento e não o contrário, isso é motivo de algumas guerras, confrontos terríveis.

E eu continuo com essa mania incorrigível de ir contra a maré da racionalidade e dos costumes, enquanto tento melhorar e viver uma vida produtiva e criativa.

Resguardo-me o direito último de não saber tudo de antemão, de não adivinhar o caminhar das coisas, de não ter um parecer prévio e maduro e ponderado sobre seja lá o que for. Eu chego até a sentir certo orgulho de algumas ignorâncias e escolhidos preconceitos que acalento entre minhas rugas.

Mas não me tomem por um imparcial, nem por razoável, pois esses são atributos horrendos de pessoas apáticas e hipócritas. Defendo o capitalismo, a guerra de Israel e o evolucionismo, mesmo sem conhecer todas as facetas e detalhes dos oprimidos e minorias choronas e reivindicantes.

O que eu ainda me reservo é o direito de me surpreender, de me chocar com algo novo, inesperado dentro do cotidiano. O prazer de nunca ter nada decorado, de esquecer o fim do filme ou descobrir alguma passagem fantástica e perdida dentro de um poema lido mil vezes. A Tabacaria é assim, e algumas paisagens também!

De ver uma pintinha, ou uma dobra na pele, uma mexa de cabelos que eu nunca tinha visto antes e ficar sem ar.

E numa noite longa ficar absolutamente de queixo caído pela beleza e o absurdo de um caminhão de lixo cruzando  rua, cheio de luzes e pessoas penduradas e sorridentes, sim! Sorridentes, as pessoas e as luzes.    

E por isso mesmo, pode ser que eu ainda aprenda muita coisa, ou me esqueça delas, que me divirta e ria, ou chore e me entristeça com velhas decepções.        

Pode ser muita coisa, tantas que nem sei.

Nem sei.


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segunda-feira, fevereiro 02, 2009

As Cinco Regras:

1. Não faça perguntas.
2. Não faça perguntas!
3. Sem desculpas.
4. Sem mentiras.
5. Confie em Tyler.

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quinta-feira, janeiro 01, 2009

Rápido, rapidinho!

Uau, 2008 foi rápido, muito rápido!

Comecei o ano morando ainda no Rio, solteiro e duro, e chego em dezembro casado, morando em Volta Redonda e tranqüilo com essas coisas de dinheiro. Mudanças...

Nós sempre temos a sensação de que não mudamos, de que apesar do envelhecimento e tudo continuamos os mesmos em nossas cabeças. Continuamos sim, sendo o “observador”, o ponto de vista por onde nossa vida vai passando, e isso em essência não muda, a não ser para os esquizofrênicos.

E como já estou seguro em relação a ficar louco, ou melhor, em não ficar louco, permaneço aqui vivendo bem de perto essa minha vida, passando uns apertos com as escolhas profissionais, vivendo o desafio maravilhoso de ser o marido da Luiza, que me instiga, que me protege e me acolhe em seu coração infinito.

E a luta diária de ser pai, pois é um observar e cuidar do outro, Arthurzinho neurótico e guloso, ao mesmo tempo em que você é observado com um microscópio emocional, onde todas as minhas falhas e deslizes como homem adulto-pai ganham uma urgência absurda em serem resolvidas prontamente, pra mandar fazer tem que saber fazer antes e bem feito. 

O exemplo tem que vir antes, e isso é uma parada dura.

A vida no interior me permite correr e praticar Yoga, sem gastar muita grana, sem riscos extras além dos estiramentos musculares e torções e isso é muito bom, cuidar desse meu corpo torto e vê-lo fortalecer e aprumar um pouco, mas só um pouco pra não perder o estilo!

A cozinha está muito mais próxima agora, com muitos molhos loucos e coloridos, entre os pratos tailandeses e indianos, vou criando uma mistura particular de coisas do dia-a-dia feitos com cuidado e um toque de loucura, só sinto falta do meu piloto de provas culinário que é o Betinho. Sempre que algo dá muito certo penso nesse meu amigo louco e na cara que ele faria, pena que o teimoso continua morando no Rio.

As baladas terminaram, mas tem aqueles lugares bacanas onde somos reconhecidos pelos amigos e bebemos despreocupadamente, falando e gesticulando com intensidade.

A vida está boa e digo pra vocês com sinceridade que estou feliz.

Mas continuo querendo o mundo inteiro e todos os seus sonhos.

E tudo fica melhor agora que estou mais próximo de mim mesmo.

Que Buda nos dê um bom ano, que não faltem obstáculos, dificuldades e novidades, pois nós gostamos é de desafios, e do prazer de vivê-los.

Nós gostamos é da emoção e do divertimento.

Feliz 2009 meus queridos...muito amor!


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