sexta-feira, junho 18, 2004

Dores de crescimento.

Finalmente meu blog me criou “problemas”.
Acho que até demorou um pouco, mas o negócio foi quente, pois quase fui deserdado pelos meus pais após meu último post. Até que enfim eles se prestaram a ler meus escritos e isso acabou custando a minha pobre mãezinha duas noites de sono e muitas lágrimas, meu pai foi mais sábio e simplesmente não leu nada.
Já haviam ocorrido alguns desentendimentos com namoradas, que acabaram EX-namoradas, tudo entre aspas dada a superficialidade dos relacionamentos e das reivindicações propostas. Chatices de mulheres que falam demais.
Tento aqui, amadoristicamente, me exercitar escritor, e uso minha vida como personagem destas histórias sempre verdadeiras, mas não literais. Uso o tempero de minhas predileções e idiossincrasias. Sou melodramático e exagerado, e gosto disso. Sou neto de ciganos russos, cacete! Queriam que eu fosse centrado e apático?! Escolhi não ser apático a nada em minha vida e isso é o melhor pra mim.
Não uso a literatura como forma de catarse emocional, isso não se trata de terapia de grupo ou um esculacho de minha vida e minhas intimidades, mas minha energia vem de meu dia-a-dia, de como vejo as coisas e de como formulo minhas dores e alegrias. Como todo o resto da humanidade, procurando um sentido para a vida e um objetivo maior do que apenas “ser feliz”.
Provavelmente, esse texto me trará mais problemas que soluções, mas é exatamente esse patético de se viver que me atrai, que me exaspera e que me dá o desejo de transcender todo o despreparo de viver e fazer tudo funcionar através da literatura.
Isso mesmo, Literatura com maiúscula e sem aspas.
Me pergunto agora se a mãe do John Fante chorou quando leu seus livros? E as namoradas do Bukowski?! Devem Ter feito altos barracos e lhe criado muitos problemas de verdade. E o meu amado Nelson( o Rodrigues, é claro!), vivia na merda por detonar seus amigos em suas crônicas, apenas por falta de um assunto melhor, e quando não tinha nada pra contar ele simplesmente inventava. Meu herói!
Não acredito em literatura sem exposição, em criação sem sofrimento, mesmo que seja ficcional e calculado.
Talvez esteja no caminho certo.
Fazendo uns rir e outros chorar, enquanto vou cuidando de crescer.
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terça-feira, junho 08, 2004

Despedida.

Querido Pai e Mãe,

Escrevo hoje essa carta em despedida a vocês. Não é uma carta suicida, pois meu destino é o oposto da morte, porém não é totalmente mentira que minha vida, da forma que vocês conhecem tem chegado ao fim.
A cada dia, a cada semana e a cada lenta e dolorosa hora, caminho em direção ao fim de tudo que conheço e ao encontro de minha liberdade mais profunda. Não serei mais o filho que vocês criaram obediente e bom menino, não serei mais aquele pré-destinado a “santo”, redentor de qualquer coisa, rompo com minhas velhas tristezas e com os laços que vocês construíram, me unindo a elas. Por nada.
Por um papel que não me cabe mais, que tenho que rasgar e destruir, pelo bem de minha alma e de minha sanidade, pois já não tolero mais a tristeza e a solidão, e sei que vocês também não me querem mais assim, coxo, mas já não sabem como reverter tudo que fizemos e romper com todas as promessas condenatórias que pactuamos secretamente.
Libero vocês de todas as responsabilidades e deveres para comigo. Libero vocês de dividir comigo minhas mágoas e de julgar meus sucessos, libero vocês do “amor” que nos condena a continuar sendo o que somos, sem a escolha de sermos o que queremos, e de errarmos e nos fudermos...Libero vocês de qualquer culpa que possam se atribuir em meu nome, e libero vocês de escolherem o que é bom para mim.
Sou um completo covarde, mas não é o medo que irá me impedir de ser o melhor que eu puder, de querer o melhor para mim. Quero uma mulher linda ao meu lado, e boa e justa, quero comer a melhor comida com o melhor vinho, e jamais me contentarei com migalhas de ninguém, pois eu faço meu melhor e não posso exigir menos para mim. Da vida eu quero a excelência, e a ela não negarei uma gota do meu sangue, do meu suor e do meu esperma, pois eu quero tudo! Mais e melhor, sempre.
Estou indo embora, e não tenho data pra voltar, e de coração, espero não voltar jamais. Digo a vocês adeus sem lágrimas, sem tristeza e sem mágoas, pois eu os amo com tudo que tenho e é também por vocês que faço isso agora.
É por mim e pelo meu filho, o melhor de minha vida, que digo adeus a tudo que sempre fui e me torno algo diferente. O mesmo Fred, com o mesmo sorriso aberto, com os mesmos olhos tristes, com a língua meio solta e chato pra caramba, mas com algo inerentemente diferente, e melhor.
Adeus meus queridos.
Tudo vale a pena. A vida vale a pena e vou vive-la até o fim.
Adeus
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sexta-feira, junho 04, 2004

Pouco trabalho e chuva fria.

Mais uma noite chuvosa me acolhe.
Faz frio e estou tentando trabalhar, lutando contra o mal humor e a tristeza.
Ontem tomamos um porre fantástico, meus dois amigos e eu. Rindo, bebendo muitas cervejas e nos equilibrando entre o amor e o desespero de se viver. Nós três, como loucos a beira do mar, fartos da vida e plenos em seus significados, três santos consagrados e aureolados rindo da morte.
Eu, particularmente, continuo tentando resistir. Persistindo em manter-me são enquanto me admiro com a loucura de todos ao meu redor, preocupados com o imposto de renda, com o seguro do carro e com a satisfação sexual de suas esposas indolentes, todas essas distrações que nos tornam carecas e broxas antes do tempo, que nos fazem achar a vida chata e as pessoas desinteressantes, enojados com nossa própria falta de tesão.
Vejo, aqui do meu lugar, que uma vida é pouco para tanto amor, um coração apenas é pequeno para tolerar tamanho arrebatamento quando consigo apreender o sentido final de TUDO e o milagre de cada pequena coisa. De cada sorriso banal, de cada beijo na boca, de cada lágrima em vão.
Fico confuso, pois o meu passado se esvai a cada dia, enquanto meu futuro não é mais do que um anseio, e me vejo assim, com minhas enormes asas abertas, pairando sobre um presente incerto, sem nada de concreto além da solidão e do desterro.
Enquanto tudo se perde e se reconstrói eu tento alcançá-la, mas é tão leve e fugidia, tão bela e distante, que não consigo nada mais do que cansaço e melancolia.
Mais uma noite chuvosa me acolhe, e eu a aceito.
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