sexta-feira, dezembro 31, 2004

Tudo bem, tudo azul.

O Pássaro Azul está cantando muito alto hoje, e eu não agüento mais segurar.
Ainda há tempo pra reparar meu último post, pra tentar dizer as coisas de um jeito melhor. Melhor pra mim mesmo, pro meu coração. Já que não é, para mim, possível levar essa atitude de revolta e amargura em frente por muito tempo. Não sem um ônus muito grande, e que não quero ter que pagar.
Eu preciso me defender um pouco das coisas, poupar meu coração e minha alma de tudo ruim que o dia-a-dia nos trás. Quando os amigos somem a troco de nada, quando as pessoas se tornam répteis brigando por migalhas, quando você se percebe sozinho e alheio a todos que estão a sua volta, como um alienígena, quando o próprio trabalho se torna um peso e uma chaga que não cicatriza. É nesses momentos em que preciso me proteger, mas sinceramente não consigo por muito tempo.
Tudo que eu quero, é o que todo mundo quer. Ser feliz, ter felicidade nos meus dias. Ver que as coisas estão funcionando, estão dando certo, sabem?!
Mas eu fico aqui, observando meus amigos e me sinto triste, pois todos estão tentando tanto, com tanto afinco, mas ninguém consegue. Eu sei que são as vidas de cada um, e eu não posso lamentar pela vida dos outros, não por coisas que eles não lamentam, mas é tudo tão difícil, tão duro e difícil, que às vezes eu não sei.
Minha família é formada por pessoas de coração partido, uns mais que os outros, mas todo mundo com o olho preto, todos meio machucados. Mas estamos tentando acertar uns com os outros e nos fortalecer, e vamos continuar tentando até tudo acabar.
Todo mundo tem que aprender um dia.
Aprender a lição sobre a vida, seus mistérios e tudo o mais.
Nesse ano eu tive que ir ao Inferno, pra poder me compor como ser humano, pra juntar alguns pedaços que estavam perdidos já há algum tempo. E isso foi bom, já que agora eu estou melhor, mas é ruim você se ver em uma situação tão desesperadora pra poder melhorar, deixa a gente meio inseguro, meio com medo.
Mas querem saber de verdade?
Eu vou continuar sendo o mesmo de sempre, vou tentar ser mais bonzinho ainda, ajudar mais as pessoas, me apaixonar mais e bancar o “sem noção” como nunca, pois são papéis que gosto de cumprir. Vou continuar com minha casa aberta, como meu coração aberto, pois eu tenho um coração inteiro e verdadeiro.
Tenho orgulho de tudo que sou e não me arrependo de nada.
E eu sei que vou dar certo, não tem outro jeito de viver a vida, a não ser fazendo as coisas darem certo.
Amo todos vocês, e vocês já sabiam disso desde o começo.
Deixa o Pássaro Azul cantar, deixa-o voar livre e sair por aí.
Pra mim ele sempre volta.
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Nem tudo deu certo.

2004 está acabando.
Mas como ainda faltam algumas horas estou na dúvida se fico dentro de casa, mas estou com medo de que uma Tsunami derrube meu prédio, mesmo estando a 100 kilometros acima do nível do mar. Com 2004 a gente não brinca...
Desejo aqui aos amigos, que o próximo ano seja melhor, pois será mais longo já que o Carnaval é na primeira semana de Fevereiro, e todos feriados caem no fim de semana ou na quarta-feira. Então tem que ser melhor, pois mais rápido não será.
Esse fim de ano foi uma bosta, desculpem o mal português. Mas só assim pra me referir a quantidade de trabalho e estresse que se acumulou nesses últimos meses, que me renderam queda profusa de cabelos, uma faringite monstro de duas semanas, uma amidalite bacteriana e pra fechar o ano uma gastrenterite...Parece lista de pragas do Moisés...
Dessa vez não vou ficar citando nomes, pois inicialmente são os mesmos citados anteriormente, e vocês estão carecas de saber quem são vocês e de sua importância para mim.
Tudo será melhor no ano que vem.
Eu reclamo, mas não desisto, eu choro, mas não me dobro, então se não for melhor, que se dane também, pois se 2004 já passou eu topo qualquer parada.
Um minuto de silêncio para todos os pobres que morreram na Indonésia, e para todos aqueles que lutam sozinhos...
Um brinde aos sobreviventes, e muita força, pois o pior está por vir...E que 2004 não volte nunca mais!
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sexta-feira, dezembro 17, 2004

Até que enfim é sexta-feira.

Estou cansado hoje. Cansado e de mal humor.
Faz muito calor e isso só piora as coisas; esse calor úmido de Dezembro que faz minhas roupas pesadas e meu rosto oleoso.
Preciso descansar e dormir por uma semana, pelado e sem telefones por perto. Mas eles continuam vindo até mim, e não respeitam meu cansaço.
Eu adoro gente, todo mundo sabe disso. Exatamente porque eu fico repetindo isso o tempo todo, mas há dias em que, meu Deus!, eu odeio todo mundo. E eles vem com seus sorrisos amarelos e suas queixas sem sentido e repetitivas. Todos são os maiores sofredores do mundo e fodam-se os outros e foda-se eu também e minha vida toda, somente por discordar deles. A “síndrome de coitadinho” que condena a humanidade a viver como bichinhos adestrados com pornografia e sedativos.E isso só aumenta meu tédio e meu cansaço enquanto continuo trabalhando o dia todo e noite adentro.
Hoje eu estou chato, então não me ligue por favor.
Minha prestadora de celular quer arrancar meu couro, por um erro deles e quando quero dividir a conta absurdamente alta, o sistema deles está inoperante, temporariamente. Que comédia! “ Ligue amanhã novamente, por favor e obrigado...blá, blá, blá...”. Ainda não recebi meu pagamento e nem sinal de décimo-terceiro salário.
E fico igual ao resto, resmungando e reclamando, e talvez escrever sobre isso alivie um pouco essa vontade de sumir, tirar o plug da tomada por uns dias, até que esse ano acabe. Isso é o diferencial entre o ser um bosta ou não, ter consciência de sua condição seja ela qual for.
E que esse ano acabe logo e não volte nunca mais!
Preciso de uma namorada nova, preciso de alguém mas estou com preguiça de ser bonzinho e sedutor. “Olha como eu sou legal e sensível e não vou te dispensar após transarmos...”. Cara, isso também é muito chato, muito entediante ter que provar pros outros o que eu sou e que qualquer um pode notar sozinho se tiver o mínimo de atenção ou interesse, mas todos tem pressa hoje, todos tem muito o que fazer.
E as meninas legais estão todas saindo com uns boçais tagarelas e superficiais, mas eles leram Dostoiévski e choram com a Florbela, e se alguém ainda cai nessa, o que eu posso fazer?!
Que se ferrem e venham chorando depois.
Continuarei aqui.
Envelhecendo e entediado, e espero que por muito tempo ainda.
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quarta-feira, dezembro 08, 2004

Passageiro de algum trem.

Sempre gostei de viajar. Nunca viajei o necessário pra me sentir perdido no mundo, habitante do mundo como naquela propaganda de cigarro cafona. Mas a estrada sempre me fez relaxar e me sentir bem humorado.
Não conheço um terço dos estados brasileiros, e nada da América Latina, mas já dei umas voltas por outros cantos meio loucos, pra saber que rodoviárias, aeroportos e lugares perdidos nos mapas são como se fossem minha casa também.
Experimentei solidão e saudades e medo, pela distância e pelas dificuldades, mas há alguma coisa que me atrai irremediavelmente para viajar, pegar um ônibus ou sair dirigindo pra conhecer outros lugares e muitas pessoas, sempre muitas pessoas interessantes e suas vidas comuns, mas diferentes e por isso fascinantes naqueles detalhes do dia-a-dia.
E isso torna meu lado voyeur mais agudo e perspicaz, pois enquanto uns observam pássaros eu observo pessoas, sem perversão alguma, ou muito pouca pelo menos. Um aeroporto, ou uma rodoviária grande como a de São Paulo é prato mais que cheio pra ficar sentado fumando e vendo as pessoas passarem.
Apressadas, cheias de malas cheias de coisas curiosas, meio assustadas ou meio desorientadas mesmo. É só ver uma figura interessante e logo já começo a babar, imaginando todos os motivos e histórias daquela viagem, daquele grupo ou das pessoas sozinhas mesmo, correndo pra algum lugar ou pra alguma pessoa. Não existe lugar mais transcendente, que me traga mais fascínio que estes, aonde todo mundo vai pra algum lugar, obviamente, mas que se cruzam ali, cada um na sua rota de busca ou fuga.
Às vezes acho que deveria fotografar ou tomar notas, mas isso mataria parte da magia, que acabo guardando só pra mim. Personagens que se constroem na minha cabeça louca, que se formam e somem na multidão anônima, acolhedora de todos nós, anônimos uns pros outros, mas cruzando-nos ali também, rumo àquilo ou àqueles que nos aguardam.
Mas o melhor talvez seja voltar, pois assim mantemos o referencial que dá as proporções de nossas aventuras, voltando zeramos o contador e podemos começar tudo de novo, com aquelas experiências e pessoas novas fazendo parte do nosso acervo pessoal e intransferível. Não viajo pra aprender nada, mas não perco nenhuma oportunidade de fazer algo novo, de conhecer e me misturar, dando o tempero desse amálgama que é minha vida, cada vez mais rica enquanto envelheço.
Mas é bom ter algum lugar pra voltar, um lar, uma raiz em algum canto.
Voltar pra casa é bom desde que Dorothy voltou pro Kansas batendo os calcanhares, lembram?
Não há lugar melhor que o lar.
Não há lugar melhor que o lar.
Não há lugar melhor que o lar...Toc-toc.
Mas sem apego, docinho. Sem apego...
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quarta-feira, dezembro 01, 2004

Cinco condições para ser um pássaro solitário:

1. Ter o bico sempre apontado para cima.
2. Voar sempre ao ponto mais alto.
3. Não ansiar por companhia nem de sua própria espécie.
4. Não ter cor definida.
5. Ter o canto mais suave.
( homenagem a Don Carlos Castañeda)
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segunda-feira, novembro 29, 2004

Além da imaginação.

Dia dois de Novembro o blog fez um ano!
E eu nem lembrei...Grande pai eu sou. Mas na verdade não sou pai do blog, ele se criou sozinho...
Só me admiro por ter conseguido mantê-lo por tanto tempo, com algumas dificuldades, mas sempre em frente. E sem pressa.
Não vou fazer nenhuma retrospectiva chata e nem nada. Só coloquei isso aqui pra me sentir bem comigo mesmo.
E vou continuar escrevendo, meio lento e com uma certa preguiça, mas vou continuar.
Pra quem interessar.
Pra quem tiver curiosidade.
Pra quem gosta e pra quem odeia.
Vou continuar com essa porra toda até encher o saco. Aí eu invento outra moda pra me dar trabalho.
Valeu, malucada!!!
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quinta-feira, novembro 18, 2004

Hoje é meu aniversário. Parabéns pra mim.

Hoje é 17 de novembro.
Hoje é o meu aniversário.
Faço 32 anos. Estou ficando velho, devagar e fatalmente.
Mas está tudo bem. Sério...
Fiquei pensando na minha vida hoje, na verdade foi ontem enquanto bebia uns chopps, e cheguei a conclusão de que tudo está certo, exatamente no lugar em que devia. E de repente comecei a me sentir grato.
Uma gratidão universal e completa por tudo a minha volta, e vi que se me oferecessem a oportunidade de mudar algo na minha vida, não mudaria nada, pelo menos nada além do meu nariz, que é meio torto.
Foi um ano muito duro, mas cheio de surpresas maravilhosas, cheio de pessoas maravilhosas, e motivos mais que diversos para comemorar.
Agradeço a minha vida por sua diversidade, por tudo de bom e de ruim que me aconteceu, por todas as lições amargas e pelos renascimentos e pela reinvenção da minha pessoa, e de tudo que me cerca.
Agradeço a meus amigos, pelo amor e pela dedicação que me devotam, pela paciência e bom humor pra me aturar e se divertir comigo.
Gabriela André, Roberto de Nigris, Gabrielle Bernardeli, Rico Tolomelli, Leo Passos, Lara Nowak e Zaíra Mansur, vocês estão sempre no meu coração.
Agradeço a minha terapeuta Valdéia Fortunato, por ter simplesmente me fisgado do abismo no qual afundava, pela sua inteligência e compaixão, e pelo seu interesse em me ajudar.
Agradeço a Gleice Ladeira, por seu companheirismo, carinho e atenção, pelo seu lindo sorriso e por estar lá quando mais precisei de você.
Agradeço a Mariana Sierra, pela sinceridade, pela loucura e por tudo de bom que você trouxe pra mim, assim sem precisar pedir.
Aos amigos orkuticos pelos papos inúteis e pelas gargalhadas solitárias. E a vocês que lêem meu blog e acham qualquer coisa que valha a pena nessas frases mal feitas porém sempre sinceras. Continuem lendo, por favor.
Não posso esquecer de minha famíla, as pessoas que mais amo no mundo. Agradeço a vocês simplesmente por estarem aí, sempre a me esperar com os braços abertos e com o coração repleto do mesmo amor que tenho por vocês.
Que a chuva branda do Buda nos molhe a todos, mas que nas folhas de lótus nenhuma gota permaneça.
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terça-feira, novembro 02, 2004

Cinco coisas necessárias pra virar personagem no meu Mondo:

1. Ser bom comigo.
2. Ser muito mal comigo.
3. Ir me buscar na rodoviária caso eu vá te visitar.
4. Ter um gen Tennenbaum e não ter vergonha disso.
5. Pedir com jeitinho, tá bom Gabrielle Bernardeli?!
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quarta-feira, outubro 27, 2004

Eu aponto a Lua e você olha pro dedo.

Eu tenho um sentimento.
Eu tenho um sentimento muito fundo no meu coração.
Um sentimento que eu não consigo esconder.
Mas eu vou fingir como ninguém, a fim de tentar me controlar.
È um tipo de fragilidade. Uma coisa sutil, suave e nova, e realmente me surpreendo em descobrir esse tipo de coisa a esta altura do jogo, da minha vida.
Sinto falta dos amigos e da família, me sinto só como nunca. Mas o inédito é que está tudo bem.
Continuo sentindo a dor, mas é como se fosse a dor de outro, sinto tudo do mesmo jeito, mas é como se fosse outro a chorar e ranger os dentes. Continuo a beira do abismo, olhando fundo em seus olhos opacos, mas ele não me olha mais de volta; somos estranhos um pro outro e nem nos cumprimentamos mais, o desespero e eu. Até o excluí no orkut, pois ele não é mais meu amigo.
Isso não muda nada na minha vida.
E muda tudo.
Eu tenho um sentimento fundo no meu coração.
E é muito difícil conter as asas que estouram em minhas costas, muito duro continuar andando pelo chão quando posso voar e me livrar de tudo de pobre e triste que este mundo trás para mim.
Eu vou fingir como ninguém jamais fingiu!
Somente para continuar aqui.
Do seu lado.
E você nem vai notar.
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quarta-feira, outubro 20, 2004

Cinco coisas que valem a pena se você tiver coragem:

1. Ter um filho.
2. Encarar um relacionamento por aquilo de bom que ele tem e não pelo que você vai ganhar com ele.
3. Dizer não pros outros e sim pra você mesmo.
4. Fumar maconha no banheiro do colégio.
5. Ser você mesmo, contra tudo aquilo que esperam que você seja.
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segunda-feira, outubro 18, 2004

O universo dentro de uma gota.

É obvio que não estava em meu estado de consciência cotidiano. Ricardo Tolomelli e eu estávamos mais uma vez testando os limites do dia-a-dia e da vida comum, lisergicamente falando. Embalados pela amizade e pela mais pura alegria de meninos, cristalinos e sorridentes meninos, com os olhos brilhando e patéticos de euforia e assombro.
E ouvindo Der Ritte Draum eu pude percebê-la claramente. Estava em toda minha volta, eu respirava sobre ela e me apoiava sobre seus braços.
Era como um peixe imerso em sua existência suave e perene. Era ela em tudo, o tempo todo e sempre, infinitamente reafirmando a vida e tudo que cresce e caminha pra seu fim, em loops fatais e infinitos, dobrando-se sobre si mesmos.
Um fractal, essa foi a imagem física que percebi, fractais. Mas não somente fractais, e sim Mandalas prateadas e verdes, infinitas e circulares, formadas por ossos humanos e crânios. Mandalas fractais de ossos e crânios.
Vocês têm que entender que estou tentando colocar no papel (papel?) uma realidade a parte, mas que existe aqui e agora, oculta de nossos olhos repletos do cotidiano e do corriqueiro, estou tentando traduzir em palavras uma experiência mística, metafórica e estritamente pessoal. Mas o que realmente é inacreditável é não percebermos tudo isso na nossa vida comum, mas está tudo aqui, sempre esteve e é triste e desesperador nós nos esquecermos disso tudo. Como se esquecêssemos de nossas mães, de nossos filhos, de nossos próprios nomes.
Mas naquele momento sem tempo e sem destino, eu pude mais uma vez mergulhar-me em seus braços doces e me entregar ao vácuo, onde tudo é cor e movimento, me senti protegido e embalado pela certeza de que tudo funciona, que estamos todos bem, assim mesmo como estamos e de que todas essas coisas pequenas e absurdamente reais são o que realmente importa.
Abraços amigos, carinhos descompromissados, um sorriso doce e lágrimas salgadas rolando pela face. A solidão de nossos dias, e a luz que esperamos encontrar, todas as razões e nossa incessante busca por felicidade, tudo isso está certo e não há qualquer sentido que dê razão a vida, além do próprio viver, até que se quebre a Roda, o Samsara e tudo se torne um. Sem fim e sem começo.
Tudo isso eu percebi claramente, como sempre soube, sentado ali na sala do belo apartamento do nosso Rico Suave.
E me perdi e me encontrei enquanto dançava sobre a Morte e suas Mandalas Fractais.
Pra comemorar uma cerveja na janela, transcendente como nunca, as 6:30 da manhã, era uma segunda feira e nada importava.
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terça-feira, outubro 05, 2004

Talvez não seja certo amar demais.

Eu vou sair.
Vou ficar só.
Mais uma vez tudo se repete em minha vida e aqui estou eu.
Com aquela velha dor vazia no peito.
Tão cansado que não posso dormir, meu corpo dói e minhas costas doem e tudo é desconforto e bagunça. Meu apartamento está imundo e zoneado e estou barbudo e triste
Mas isso é minha vida e o que eu posso querer mais?
Agora não me arrependo mais de nada. Aceito tudo. Sem pudor nenhum e nem culpa, e acho que isso se chama coragem.
Eu queria chorar, mas estou preso, estou mudo e seco. Eu quero tanto acertar, quero tanto que as coisas durem, mas nada dura, nada dá certo e eu fico aqui tentando, sozinho.
Não tem mingúem aí querendo brincar comigo?!
Brincar sozinho é tão chato. E eu tenho precisado dos meus amigos, tenho precisado de pessoas de verdade, mas mesmo as pessoas de verdade me parecem tão distantes que não sei o que posso fazer para isso melhorar.
Eu vou sair.
Vou ficar só.
E vou continuar andando por aí, a pé, sem um tostão no bolso, tentando me cuidar enquanto ninguém vem cuidar de mim. Tentando ser feliz apesar da vida, tentando sonhar apesar da realidade e sobrevivendo, sempre.
Essa é minha vida e não quero outra. E não troco por nada.
Sempre fui só, mas quem sabe isso muda um dia.
Eu vou sair.Mas um dia eu volto.
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quarta-feira, setembro 29, 2004

Experiências importantes.

Termino nessa semana minhas férias.
De volta a rotina e ao tédio de meus papéis profissionais e sociais, mas como continuo tendo que pagar minhas contas e ainda gosto de beber vinho, de volta ao trabalho homem!
Coisas muito boas aconteceram neste mês que passou rápido demais, experiências capazes de mudar muita coisa na minha vida ou de pelo menos fazer com que tudo fique de pernas pro ar novamente.
Cinco dias no Mosteiro Budista do Morro da Vargem, foram uma caminhada no deserto, meditações longas e companhias provassionais testaram até o limite toda minha tolerância e desapego budista. Tudo correu bem demais, mas não sem um certo grau de angústia e dor física, com o peso de meus problemas mal resolvidos sobre minha coluna torta e minhas articulações enferrujadas. Mas vamos em frente, e mantendo a fé no Tathaga.
Voltando ao Rio com minha amiga Lara Novak, tive a idéia genial de assistir Brilho eterno..., E vocês já souberam do resultado no Estação Unibanco, com muita gente assustada pelo maluco chorão da quinta fila, fazer o que?! Segurar choro me dá dor de cabeça. E acabei a noite tomando umas cervejas mexicanas com limão e sal que ficaram um pouco aquém do esperado, mas vou experimentar de novo depois, pois acho que histeria acaba atrapalhando um pouco o paladar.
E pra terminar tudo fui pra São Paulo rever um velho amigo.
Trata-se do Ricardo Tolomelli, agora conhecido como Rico Suave. E grande foi minha surpresa ao reencontrar o velho amigo assim mesmo, suave e tranqüilo. Antes o mais neurótico da turma, careta convicto e juramentado e cheio de manias tornou-se uma figura calma, de fala mansa e sorridente. E como é bom rever esses velhos amigos assim, tão de bem com as coisas, e tudo conquistado com muita luta e não sem sofrimento também.
Junto desse amigo essencial tive as melhores experiências na “cidade suja” da Clarah, baladas hype, boa comida e excelentes pessoas. E as melhores viagens que a farmacologia moderna podem proporcionar, as melhores conversas e as melhores viagens...
E tem também a Mariana Sierra, que apareceu do nada e agora já ocupa espaço mais que importante nesse meu coração capenga, mas sempre com espaço para pessoas doces e cheias de vida como ela.
Agora estou aqui, esperando minhas férias terminarem e sentindo falta de amigos. O Betinho foi pro Rio, o Leonardo casou, mudou e não me convidou e o restante da galera está longe, de uma forma ou outra.
Fico por aqui, tentando não sucumbir à melancolia e lendo, ou talvez relendo, O Pequeno Príncipe, o presente mais lindo que poderia ter ganhado neste ano tão duro.
Tudo vai dar certo.


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domingo, setembro 26, 2004

Cinco coisas que aprendi em seis dias:

1. Coisas boas sempre vem quando menos se espera e de onde menos se espera.
2. Preconceitos são uma coisa terrível e não podem fazer parte das nossas vidas.
3. Rever velhos amigos deveria ser um hábito pra nós.
4. Nunca coloque frango cozido na frigideira sem antes escorrer bem, ele explode.
5. Tudo vai dar certo, sempre.
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quinta-feira, setembro 16, 2004

Coração de amianto.

Feche os olhos e ignore a fumaça, querida.
Chegar perto de mim é assim, correr um risco talvez desnecessário, se atirar sem rede de proteção somente com a certeza do asfalto no fim de tudo, e o fundo chega um dia. Brincar com objetos pontiagudos sempre foi divertido pra mim, assustando minhas irmãs e me cortando às vezes, só não podia imaginar que faria de minha vida algo também tão afiado e de utilidade tão discutível. Todo mundo se corta, e todos sangram.
Respire fundo e pelo nariz, bem devagar.
Eu vou vivendo tudo isso do jeito que posso, do jeito que consigo. Redundante e tentando conciliar minha liberdade preciosa com minhas obrigações. Faço o que um homem tem que fazer, e sempre tive tanto orgulho em ser homem. Feio, forte e formal, como disse John Wayne, que era um racista e reacionário do cacete, eu sei, mas que tinha razão quanto a essas coisas de ser homem de verdade, e sempre foi um modelo pra mim, ele e o Clint Eastwood. Os bastardos mais frios do velho oeste.
Fique calma e tente ignorar a fumaça.
Vou munindo-me de aparatos formidáveis para minha segurança, por mais ingênuas que sejam minhas tentativas de me manter a salvo.Uma espada, livros, fotos antigas e um terço, pra me dar alguma referência de quem sou eu, do que sou eu, além de mim mesmo e de meus desejos. Levo comigo esses objetos pra me fazer coezo e firme, marcando meus passos e meu caminho, caso precise voltar.
Feche os olhos e não se assuste com o calor.
Isso sou eu aqui a seu lado.Querida, eu queimo.
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domingo, setembro 12, 2004

Carta social.

Após um tempo afastado eu volto, movido pelas bebidinhas e pelas melancolias. Disseram-me nesta semana que meus problemas não mudam, que há 10 anos eu sofro as mesmas dores, os mesmos dissabores. Mas é isso aí mesmo, aquela redundância em querer ser feliz e ter uma vida ao menos agradável.
Mas tudo volta e fico aqui andando em círculos.
Vamos as novidades de sempre.
Nesta semana meu Twister morreu.
Bandini ficou comigo alguns meses e por um descuido qualquer cometido por terceiros, o pobrezinho morreu. E eu fiquei triste pra caramba, de chorar e tudo mesmo. E o enterrei em uma pequena cerimônia budista, e isto não é uma piada! Meu filho colocou umas flores onde o enterrei hoje, e isso foi triste, muito triste...
O coração continua batendo a mil, e continuo sem saber onde vai parar, continuo sem saber o que se passa no meu destino, onde será que isso vai terminar. Continuem lendo e saberemos um dia.
Assisti “Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças” e tive uma crise de choro tão descontrolada que a Lara Novak, uma budista congênita, não sabia se corria ou me acudia. Que situação...Mas não me incomodo de ter uma crise de choro convulsivo na frente de 250 estranhos, eles é que devem ter se constrangido com minha emoção, tão explícita e escandalosa. E sem assuar o nariz, porque o verdadeiro choro não se assua, disse Nelson Rodrigues.
Somente uma coisa foi boa, somente uma luz, uma promessa por vir.
Elas continuam mandando no meu coração irresponsável, e eu continuo tentando me ater a mim mesmo.
Ser feliz, adulto e são ao mesmo tempo é uma luta quase que utópica, mas tem valido a pena tentar, se não der certo eu nunca vou saber, pois só vou parar quando tudo isso acabar.
E pra vocês beijos e abraços saudosos.
Do teu,
Frederico Griman.
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quinta-feira, agosto 26, 2004

Mamãe mandou eu ser feliz.

Minha mãe mandou eu ser feliz.
Eu precisei pedir muito, e até fazer um pouco de chantagem emocional, mas após negar um pouco, quase 32 anos, ela finalmente permitiu.
Disse, “Então vai menino, não liga pro que seus amiguinhos vão falar, mas tenta ao menos ser feliz, põe um sorriso nessa cara e vê se escova os dentes antes de dormir, e não toma sereno sem agasalho”.
Agora estou aqui, me sentindo um perfeito pateta, com aquela sensação de que não devia ter saído da cama. Nos últimos quatro anos. Sabe aquele clip do Daft Punk, com o garoto com cara de cachorro com um rádio quebrado e gesso numa perna?! Eu sou aquele cara, vivendo em uma cidade grande à noite, só que o mundo todo é uma cidade grande e é sempre noite, e minha perna está latejando. Acho que vai fazer frio de novo, que saco.
E eu me admiro com minha própria ingenuidade. Admiro-me, e me entristeço, pois é dolorido demais ser assim. Mesmo após todos esses anos na Big City, após anos de traição, fracasso e decepções (como um verdadeiro Tennenbaum), eu continuo acreditando na redenção do amor e em algo nessa vida que faça tudo isso valer a pena. Meu nome agora é Dogboy Tennenbaum, um idiota ouvindo eletro com o botão do volume quebrado, e manco.
Mas a batida não para.
Tum, Tum, Tum!
Socando na mente e deixando todo mundo louco a minha volta.
E quando a situação fica ruim, como tem estado nesses dias eu vou logo dizendo na cara, “Pode rir, pode chorar, não interessa, minha mãe deixou eu ser feliz, porra!”. E a batida não para.
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sexta-feira, agosto 13, 2004

Cinco coisas muito ruins:

1. Tomar soco no nariz.
2. Mulher com dor de cotovelo.
3. Ter vizinhos suingueiros e que ouvem pagode.
4. Acordar pelado e de ressaca do lado de uma pessoa desconhecida e com mal hálito.
5. Pagar imposto de renda.
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domingo, agosto 08, 2004

Tudo por uma vida menos ordinária.

Eu particularmente não acredito em sentido da vida.
Não acredito em uma explicação, em um objetivo explícito para a vida, não enquanto objeto do viver pelo menos. Mas sem muita viagem, sem muita metafísica.
A Mariana escreveu que talvez o sentido de tudo seja o sexo, a finalidade de tudo que experimentamos e buscamos. Muitas voltas pra sempre terminar do mesmo jeito, bem, não exatamente do mesmo jeito mas envolvendo os mesmo jogos, gemidos e secreções afinal.
Eu particularmente gosto muito de sexo, mulheres sempre foram o ponto central de todos os meus problemas e soluções, sempre me trazendo e me levando do céu para o inferno, sempre donas do meu coração. Mas o sexo, pelo sexo apenas, me parece agora uma coisa meio sem alma, sem uma finalidade em si, pois são poucos minutos de prazer para muitas horas de arrependimento, e acreditem, não importa a força de nossa concentração e o poder de nossos desejos, a mulher nunca vira pizza após uma trepada casual. E fica aquele mal estar tipo, vem cá me dá um beijo! e você pensando na pizza.
Vejo estas pessoas pobres e doentes que convivem comigo no dia-a-dia, e não posso deixar de pensar no "sentido" destas vidas cheias de privações e dificuldades. Algumas pessoas com tanta doçura, brincando com carrinhos usados e sem roda, e outros tão perdidos entre dores na alma e um vazio que não pode ser resolvido por analgésicos ou anti-depressivos. Porra, às vezes é foda mesmo, muito difícil conviver com tantas dificuldades fazendo tão pouco, dividindo somente alguns momentos nos quais tentamos, sem proselitismo ou idealismos babacas, fazer alguma, qualquer diferença nessas vidas tão duras e fazias de afeto. E eu sei, no fundo que o que faço não é pouco e faz diferença.
A Gabriela, minha comparsa mais fiel e amiga mais profunda, divide comigo além de muitas histórias loucas e furadas inacreditáveis nas quais nos metemos, a profissão e trabalhamos juntos uma vez por semana, por vinte e quatro horas contínuas. Muitas vezes nos irritamos um com o outro e poucas não foram os palavrões e xingamentos com que nos tratamos, mas de definitivo existe aquela cumplicidade fatal, que nos faz muito pouco condescendentes com as fraquezas um do outro, embora caiba aqui também uma compreensão profunda das mesmas.
No fundo, somos meio proscritos na nossa profissão, por pensarmos mais, sentirmos mais e também querermos mais da vida do que conforto e tranquilidades passajeiras. Já choramos muito, e vimos o pior que nossas vidas pode nos dar até hoje, e no final percebemos que não há um sentido pra isso tudo.
Não há explicação ou justificativa que satisfaça, então melhor sair por aí vivendo apenas, errando e tentando não se repetir demais, não propositadamente pelo menos.
E esse texto é pra você Gabi, minha amiga. Que divide comigo o melhor que posso fazer, que me vê errar e falhar, mas que sabe que estou tentando cara, de verdade. Tentando com tudo que tenho.
Esse texto é pra você e pra mim, um lembrete de que coisas boas podem durar e talvez até durarem para sempre, até o fim e daí começarmos de novo e de novo e de novo...
Sobreviver é nossa maior vingança.
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domingo, agosto 01, 2004

Cinco coisas inúteis:

1. Se arrepender de ter tomado a décima sétima cerveja.
2. Ter dó das criançinhas que passam fome na África.
3. Pagar análise para ex-mulher.
4. Amigos internéticos.
5. Me pedir pra abaixar o som e falar baixo.
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domingo, julho 25, 2004

Acho que eu vi um coelho branco.

Para variar estou a toa no serviço.
Está chovendo, muito frio, e o povo preferiu ficar em casa, a vir até mim reclamar da vida. Eles com suas culpas e arrependimentos e eu com um pouco de tempo para ler e escrever até. Grande negócio.
De repente me deu uma bruta vontade de fumar, sabe?! Um cigarrinho qualquer, queimando na minha mão e aquele fedor maravilhoso tomando conta do ambiente. Apelei e até pedi um pra secretária mas ela me olhou como se eu estivesse pedindo ela em casamento.
Eu, hein?! Tá com incosto?!
Foi o que ela me disse balançando a cabeça e revirando os olhos, uma das cinco coisas que mais odeio em mulheres, revirar os olhos e torcer a boca.
Sou um fumante completamente fake, gosto de uns cigarros metidos a besta que eu não trago, para desespero dos fumantes reais, pois me dão uma tosse desgraçada. Só consigo tragar esses com gosto de papel: Luckys, Carltons e Malboros, mas tem um gosto tão sem graça que não valem a pena o sacrifício.
Tragava outras coisas, mas como parei com isso, estou perdendo a prática, e além disso minha namorada é uma daquelas anti-tabagistas e me ofereceu a escolha entre sua boca ou os cigarros; mulheres e suas jogadas...fico com a boca, bye bye fumacinha azul.
Hoje acordei dentro de uma teia.
Já estava dirigindo a cerca de vinte quilômetros e continuava sonolento e apático. A teia dos que me querem e tem medo. Aqueles fios invisíveis que ficam presos na culpa, no remorso e na insegurança. Fixos em nossos pulsos, tornozelos e no coração.
Mas o Radiohead me deu uma força e eu afastei tudo aos berros ( Murderers, you´re murderers, we are not the same as you!!!). E é admirável de como nós mesmos tentamos nos sabotar. É um processo lento e calcado na camaradagem e no amor familiar, mas quando percebemos "a jogada" escondida por trás de nós mesmos, tudo fica patético e mesquinho, esse nosso pavor em mudar; e percebemos que nossos antigos amores são apenas representações de tudo aquilo que nos torna fracos, de nossas fragilidades.
A Matrix está aí! Mas é muito mais engenhosa do que a do filme, criada por máquinas. A real tem muito mais sutileza e nos usa como capataz e carrasco de nós mesmos. Pois é na desconfiança e na fixação negativa que criamos nossos laços com a rotina e com a infelicidade, recheada de "sonhos" e realizações", todos vazios e impermanentes, mas devidamente monografados, é claro.
Os agentes não usam ternos pretos impecáveis e óculos escuros fantásticos( eu queria ter um, com certeza), e sim aventais, mini-saias com langerie sexy, calças curtas e até nossa própria cara, quadrada e amarela no espelho. Eles não nos apontam armas; nos apontam os dedos, nos chamando de meu amor.
Enquanto sugam nosso sangue até a medula. E eles querem sangue novo, carne doce e pulsos fortes, pois eles gostam de uma boa luta, confiantes em sua vitória final, e acaba sendo essa nossa única sorte, a confiança ilusória que eles criam para si mesmos, também presos pelas regras do próprio jogo. Essa ilusão de que tudo já está certo, ganho e perfeito.
E vou por aí, tal um louco saltando e cantando, um acrobata suicida, bobo-da-corte samurai, cortando os laços e desatando os nós com a força do meu amor que está tão vivo e tão cheio no meu peito histérico e maníaco.
E vou por aí, batendo palma para vocês dançarem e passando a noite em claro, conversando com a lua e rindo de mim mesmo.
Um menino velho com sonhos impossíveis.
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segunda-feira, julho 19, 2004

Cinco coisas que demonstram intimidade:

1. Limpar a orelha da outra pessoa.
2. Chamar os amigos por pequenos apelidos pejorativos.
3. Beber água no gargalo e fechar a geladeira com os pés.
4. Beijar na boca sem escovar os dentes.
5. Não se constranger em ser visto chorando.
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domingo, julho 18, 2004

Muita calma nessa hora.

Slow me down, babe.
Slow me down…
Seria um bom refrão para uma música do Camille Claudel, minha finada e muito saudosa banda. Terminamos a cerca de uns três anos e só gravamos uma fitinha caseira completamente amadora, mas vocês precisam acreditar quando eu digo que nós estávamos muito a frente de nosso tempo, misturávamos post-rock com bossa nova e nem sabíamos que éramos modernos. Mas como não tocamos mais, fico sozinho imaginando uma melodia triste e divagando, enquanto alongo o tema.
Preciso que você me desacelere, querida.
Diminua minha velocidade, pois tudo acontece tão rápido e tão profundamente que vivo em um estado perene de histeria e antecipação, levando o dia-a-dia ao extremo em suas nuances e acontecimentos corriqueiros. Fico cansado, e cansativo, com essa minha mania de ir ao fundo de tudo. Tudo muito sério e definitivo, por demais cansativo e pesado.
Preciso parar de pensar com o coração e de bombear o sangue com a cabeça (batendo com a cabeça), pois os dois estão doendo, e eu acabo sofrendo por amor, por saudade e por tristeza e pela antecipação de tudo, e não agüento mais esse meu jeito louco de viver. Kamikaze sorridente. Fazendo tudo errado, com tanta ânsia de viver o momento que acabo por precipitar o fim de meus momentos tranqüilos e pacíficos com uma intensidade sem medida. Como diz a Clara, sem sangue não tem graça, mas precisa ser sempre o MEU sangue? Quanto sangue ainda me resta a esta altura?! Não sei mesmo.
E você tem a chave para me ajudar, querida. Me ajudar a diminuir o volume, me ajudar a desacelerar a rotação da vida. Falando baixo, rouco e às vezes nem falando. Deixando as coisas para amanhã e dormindo um pouquinho no fim da tarde, enquanto a vida continua lá fora, somente lá fora. Minha cama tem agora o seu cheiro e fico com dó de lavar os lençóis.
Fico assim, sem jeito, te esperando e respirando fundo para controlar minha vontade louca de te ter, meu desejo desesperado por sua boca e seus olhos doces. Mas preciso desacelerar, ajustar a sintonia fina.
Começar a apreciar a paisagem, sem pressa. Curtir o ventinho no rosto ao invés de sufocar e aproveitar a viagem, demore o quanto demorar, tome o tempo que lhe for certo.
Slow me down, babe.Slow me down, and kiss me.
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quarta-feira, julho 14, 2004

Cinco pecados imperdoáveis:

1. Catchup com massa de molho branco.
2. Engravidar mulher de amigo.
3. Quebrar uma garrafa de Moscatel de Setúbal só de pirraça.
4. Mandar a avó tomar no cu.
5. Fingir orgasmo.
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sexta-feira, julho 02, 2004

República Pureza.

Segunda feira passada fui no show do Los Hermanos no Cine Íris onde foi gravado o novo DVD deles, República Pureza, pelo menos foi isso que eu li em uma claquete. Podem falar o que quizer, mas eu acho o Cine Íris um puta lugar, as festas nem sempre são boas, mas o ambiente é muito cool, literalmente agora com ar condicionado e banheiros decentes, o ar não dá conta mas algum dá no Rio?!
Dei um puta nó no trabalho, com aprovação de minha chefinha maravilhosa e fui pro Rio, de buzão executivo, gravata e tudo. Na bagagem uma herpes labial que comeu meu lábio inferior (Ai, como dói!) e Doze, do Nick McDonell, um bom livro mas que não é metade do que a crítica disse.
Os cariocas são meus “seres” prediletos, e devem ter achado que eu era paulista, ou idiota mesmo, pois tinha gente de chinelo e camiseta. É claro que fã dos Hermanos tem que ter essa coisa de “pureza”, cabelo despenteado, sainha de hippie, e barba por fazer. Um conhecido do Zé, grande Zé!, Tinha acabado de chegar da Europa e conheceu uma garota meio largadinha/gatinha que o chamou pra ir num show dos caras, ele pensou que seria fácil encontra-la, com aquele cabelão e as roupas de Bali, mas só acertou na oitava tentativa! “Você não é a...desculpe!” . E eu vestido pro show do Interpol.
O show foi foda, eles tocaram muito bem e tudo, só que o Amarante estava muito chapado, ou de drogas mesmo ou de estrelismo, pois ficou o show inteiro afinando a guitarra e reclamando do público, ele afinou aquela merda vinte vezes, e quando cansei de chamá-lo de João Gilberto (desculpe mestre), mandei ele quebrar aquela linda Fender Strato, o que obviamente ele não fez.
Os fãs são um show à parte, principalmente as “hermanetes” que estavam comigo, ou eu com elas, messiânicas, apaixonadas e performáticas. Além de cantar tudo e apoiar a banda com frases de efeito nos momentos certos, fazem coreografias das músicas! E quando eu berrei que o Bruno tinha errado, na frente dele e no meio delas quase fui linchado, haha...Sem noção! E ainda gritei “Sepulturaaa, Sepulturaaa!!!”. É verdade, eu sempre pago mico em show, e acabo enchendo o saco dos músicos, principalmente quando eles enchem o meu primeiro, foi mal.
Eles tiveram que repetir algumas músicas, e a segunda versão de “A Flor” foi perfeita. Messianismo à parte, eles são bons, demais até. E pagaram pau pro público tocando Pierrot no final, nós merecemos. Horas de espera, muita burro-cracia pra pegar os ingressos e as frescuras do Amarante mereceram um crédito especial.
Agradeço a Gabi, lindona, que me conseguiu o ingresso, com muito custo e encheção de saco. Valeu!
No dia seguinte, almocei no Shin Miura com minha irmãzinha arrasa quarteirão, e demos os roles tradicionais pelo centro do Rio. Camelôs, livrarias e cds. Mas eu estava completamente não-consumista e valeu pelo passeio mesmo. Só comprei o segundo livro da Clarah, “Das coisas esquecidas atrás da Estante” , que eu perguntei como Das coisas caídas atrás do armário, dããã, e tive que agüentar o vendedor da Travessa rindo de mim. Livraria foda! E me vinguei dele pedindo um monte de livros estranhos que eu não comprei.
Sobre a Clarah, nem é preciso falar muito, ela é simples, é direta, é eficiente, além de ser morenaolhosverdesnarizgrande, e é uma boa influência para que eu escreva mais, e quem sabe um dia eu não publico um livrinho lindo como o dela?! Me amarro nessa menina e ela nem sabe.
E a herpes acabou infectando, e além da boca inchada estou tomando antibióticos, que certamente não combinam com cervejas, vinhos e beijos.
Azar da minha boca, azar da herpes.
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quinta-feira, julho 01, 2004

Cinco coisas de que não preciso.

1. Muito dinheiro(graças a Deus).
2. Drogas pra me divertir.
3. Mensagens de pessoas escrotas que não tem o que fazer.
4. Sofrer e me fuder pra ser aceito pelas pessoas.
5. Limão e sal pra tomar tequila.
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sexta-feira, junho 18, 2004

Dores de crescimento.

Finalmente meu blog me criou “problemas”.
Acho que até demorou um pouco, mas o negócio foi quente, pois quase fui deserdado pelos meus pais após meu último post. Até que enfim eles se prestaram a ler meus escritos e isso acabou custando a minha pobre mãezinha duas noites de sono e muitas lágrimas, meu pai foi mais sábio e simplesmente não leu nada.
Já haviam ocorrido alguns desentendimentos com namoradas, que acabaram EX-namoradas, tudo entre aspas dada a superficialidade dos relacionamentos e das reivindicações propostas. Chatices de mulheres que falam demais.
Tento aqui, amadoristicamente, me exercitar escritor, e uso minha vida como personagem destas histórias sempre verdadeiras, mas não literais. Uso o tempero de minhas predileções e idiossincrasias. Sou melodramático e exagerado, e gosto disso. Sou neto de ciganos russos, cacete! Queriam que eu fosse centrado e apático?! Escolhi não ser apático a nada em minha vida e isso é o melhor pra mim.
Não uso a literatura como forma de catarse emocional, isso não se trata de terapia de grupo ou um esculacho de minha vida e minhas intimidades, mas minha energia vem de meu dia-a-dia, de como vejo as coisas e de como formulo minhas dores e alegrias. Como todo o resto da humanidade, procurando um sentido para a vida e um objetivo maior do que apenas “ser feliz”.
Provavelmente, esse texto me trará mais problemas que soluções, mas é exatamente esse patético de se viver que me atrai, que me exaspera e que me dá o desejo de transcender todo o despreparo de viver e fazer tudo funcionar através da literatura.
Isso mesmo, Literatura com maiúscula e sem aspas.
Me pergunto agora se a mãe do John Fante chorou quando leu seus livros? E as namoradas do Bukowski?! Devem Ter feito altos barracos e lhe criado muitos problemas de verdade. E o meu amado Nelson( o Rodrigues, é claro!), vivia na merda por detonar seus amigos em suas crônicas, apenas por falta de um assunto melhor, e quando não tinha nada pra contar ele simplesmente inventava. Meu herói!
Não acredito em literatura sem exposição, em criação sem sofrimento, mesmo que seja ficcional e calculado.
Talvez esteja no caminho certo.
Fazendo uns rir e outros chorar, enquanto vou cuidando de crescer.
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terça-feira, junho 08, 2004

Despedida.

Querido Pai e Mãe,

Escrevo hoje essa carta em despedida a vocês. Não é uma carta suicida, pois meu destino é o oposto da morte, porém não é totalmente mentira que minha vida, da forma que vocês conhecem tem chegado ao fim.
A cada dia, a cada semana e a cada lenta e dolorosa hora, caminho em direção ao fim de tudo que conheço e ao encontro de minha liberdade mais profunda. Não serei mais o filho que vocês criaram obediente e bom menino, não serei mais aquele pré-destinado a “santo”, redentor de qualquer coisa, rompo com minhas velhas tristezas e com os laços que vocês construíram, me unindo a elas. Por nada.
Por um papel que não me cabe mais, que tenho que rasgar e destruir, pelo bem de minha alma e de minha sanidade, pois já não tolero mais a tristeza e a solidão, e sei que vocês também não me querem mais assim, coxo, mas já não sabem como reverter tudo que fizemos e romper com todas as promessas condenatórias que pactuamos secretamente.
Libero vocês de todas as responsabilidades e deveres para comigo. Libero vocês de dividir comigo minhas mágoas e de julgar meus sucessos, libero vocês do “amor” que nos condena a continuar sendo o que somos, sem a escolha de sermos o que queremos, e de errarmos e nos fudermos...Libero vocês de qualquer culpa que possam se atribuir em meu nome, e libero vocês de escolherem o que é bom para mim.
Sou um completo covarde, mas não é o medo que irá me impedir de ser o melhor que eu puder, de querer o melhor para mim. Quero uma mulher linda ao meu lado, e boa e justa, quero comer a melhor comida com o melhor vinho, e jamais me contentarei com migalhas de ninguém, pois eu faço meu melhor e não posso exigir menos para mim. Da vida eu quero a excelência, e a ela não negarei uma gota do meu sangue, do meu suor e do meu esperma, pois eu quero tudo! Mais e melhor, sempre.
Estou indo embora, e não tenho data pra voltar, e de coração, espero não voltar jamais. Digo a vocês adeus sem lágrimas, sem tristeza e sem mágoas, pois eu os amo com tudo que tenho e é também por vocês que faço isso agora.
É por mim e pelo meu filho, o melhor de minha vida, que digo adeus a tudo que sempre fui e me torno algo diferente. O mesmo Fred, com o mesmo sorriso aberto, com os mesmos olhos tristes, com a língua meio solta e chato pra caramba, mas com algo inerentemente diferente, e melhor.
Adeus meus queridos.
Tudo vale a pena. A vida vale a pena e vou vive-la até o fim.
Adeus
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sexta-feira, junho 04, 2004

Pouco trabalho e chuva fria.

Mais uma noite chuvosa me acolhe.
Faz frio e estou tentando trabalhar, lutando contra o mal humor e a tristeza.
Ontem tomamos um porre fantástico, meus dois amigos e eu. Rindo, bebendo muitas cervejas e nos equilibrando entre o amor e o desespero de se viver. Nós três, como loucos a beira do mar, fartos da vida e plenos em seus significados, três santos consagrados e aureolados rindo da morte.
Eu, particularmente, continuo tentando resistir. Persistindo em manter-me são enquanto me admiro com a loucura de todos ao meu redor, preocupados com o imposto de renda, com o seguro do carro e com a satisfação sexual de suas esposas indolentes, todas essas distrações que nos tornam carecas e broxas antes do tempo, que nos fazem achar a vida chata e as pessoas desinteressantes, enojados com nossa própria falta de tesão.
Vejo, aqui do meu lugar, que uma vida é pouco para tanto amor, um coração apenas é pequeno para tolerar tamanho arrebatamento quando consigo apreender o sentido final de TUDO e o milagre de cada pequena coisa. De cada sorriso banal, de cada beijo na boca, de cada lágrima em vão.
Fico confuso, pois o meu passado se esvai a cada dia, enquanto meu futuro não é mais do que um anseio, e me vejo assim, com minhas enormes asas abertas, pairando sobre um presente incerto, sem nada de concreto além da solidão e do desterro.
Enquanto tudo se perde e se reconstrói eu tento alcançá-la, mas é tão leve e fugidia, tão bela e distante, que não consigo nada mais do que cansaço e melancolia.
Mais uma noite chuvosa me acolhe, e eu a aceito.
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segunda-feira, maio 31, 2004

Cinco coisas para ter sucesso:

1. Acredite em você um minuto por dia.
2. More sozinho.
3. Não seja um gordo preguiçoso que ronca.
4. Não acredite em seus pais.
5. Cara, se cuide, não deixe ninguém cuidar de você.
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domingo, maio 23, 2004

Cristina Revisitada.

Ouvi seu nome um dia desses.
Fazia muito, muito tempo. Estava em uma mesa de um bar qualquer, tendo conversas banais com pessoas banais, citaram seu nome e algo sobre um casamento entre fofocas e nulidades. Eles não sabiam de nós ou se esqueceram, pois assim como todo o resto,nós também passamos, principalmente para os outros.
Aquela conversa entrecortada por piadinhas e cacarejos foi aos poucos perdendo seu sentido, se transformando em ruídos e sons disformes, conforme eu me lembrava de Juiz de Fora e de nossa vida juntos.
Lembrava-me especialmente de uma noite em que fomos ao Berthos, você de vermelho e eu de preto, dois “pombinhos” apaixonados e selvagens. Penso que ofendíamos as pessoas com o desespero de nossa paixão, e nossa insistência em tornar explícita toda nossa lascividade. Todos nos olhavam meio de lado e algo desconfiados, como se fossemos pecadores imperdoáveis por sermos tão felizes com tão pouco, por rirmos da vida e sua falta de sentido.
Lembro-me dos sons de nossas botas sobre os paralelepípedos úmidos pelo sereno, e por nos deixarmos molhar sem pressa. No Marraquesh, martinis e alguma boa música enquanto eu me perdia sonhando acordado no fundo de seus olhos.
As noites perfumadas e intermináveis e as maiores trepadas da história humana, que quase derrubavam teu prédio e que nos custaram três camas; Se fossemos delatados pelos seus vizinhos acho que seríamos presos, pois com certeza aquele tesão todo era ilegal, passível de prisão perpétua sem direito a fiança.
Acordar naquela luz amarela do seu quarto, no final da manhã e ficar enrolando na cama até a tarde era algo ligado ao paraíso e suas bênçãos, pois nós dois juntos éramos a perfeição, consagrávamos a salvação da humanidade e jurávamos ali nos amar para todo o resto de nossas vidas e além. E no fim sei que realizamos uma façanha, nos amando até o final do nosso amor, que acabou como todo o resto, que também acabará.
E seu nome voltou a ser citado por aquelas pessoas, fazendo com que toda a realidade voltasse ao seu ritmo novamente, barulhenta e irritante. Monótona e previsível.
Mais nomes, mais risadas e bebidas, pra ajudar a empurrar aquela gente pra dentro.
E eu continuei ali, entre aquelas pessoas banais e seus assuntos banais, tentando ser apenas mais um.
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quarta-feira, maio 12, 2004

Todas as manhãs do mundo.

Tudo começa com os olhos de Maria.
São castanhos e grandes e arredondados, ela está maquiada e seus olhos estão com o lápis borrado, todo o resto é algo oitentista, com brilho e lábios molhados e rosados. Sempre fitando o horizonte posso agora ver seu rosto, magro e bronzeado, ela é bonita, porém tem um rosto comum, parece mais com uma menina que estudou com você do que com uma top model anoréxica. Seus cabelos são castanhos claros e na altura do ombro, o vento que começa a soprar os atrapalha e eles caem sobre o rosto, uma pequena franja caindo sobre seus olhos cansados.
Ela está sentada sobre um terraço, tem uma cidade metropolitana a seus pés que começa a fazer seus sons matutinos, sua roupa também se move com o vento, mais forte agora, e ela usa uma bata branca curtinha aberta nas laterais, e conforme o vento sopra vejo suas costelas com parte de uma borboleta tatuada ou algo dos seios conforme sua bata se agita. Uma saia preta deixa suas pernas a mostra, e elas são intermináveis e esguias.
Uma música toca ensurdecedora, guitarras distorcidas e melódicas criando uma atmosfera de tristeza e raiva, é My Bloody Valentine em Loveless, meu disco preferido de todos os tempos.
O céu é púrpuro e as estrelas se parecem com pequenas pedras de estrasse, o Sol nascerá daqui a momentos e a música se torna mais distorcida e angustiada. E toda a atenção é sobre os olhos de Maria
Todas as alegrias e infortúnios humanos estão ali dentro, sua tristeza é a dos que choram escondidos no banho, daqueles de nós que se colocam preteridos na vida, é a solidão inerente a cada ser humano que vive e se sente vivendo. Seus ombros estão tensos e sua respiração arqueja com milhões de respirações e suspiros de despedidas e saudades.
Alguém lá embaixo presente sua presença, e na visão de sua silhueta sente o desamparo de sua posição e se preocupa com uma possível queda, mas ela não cairá hoje.
Quando o primeiro raio de Sol toca seu rosto, seus olhos se fecham súbitos e uma lágrima corre, com um rastro escuro e borrado, a música agora somente apita notas suaves e altas sobre o som estrondoso de vento. E Maria continua com os olhos fechados, com o rosto sendo aquecido pela luz amarela solar. Cada estrela se apaga no céu, cada uma a seu tempo, e o púrpura vai dando lugar a suaves tons azulados e rosados no horizonte.
Eu permaneço em meu lugar, contemplando o mistério dessa mulher que é minha vida e meu amor, seus ombros se relaxam e seus olhos se abrem, agora me procurando até que encontram e sei que tudo continuará existindo, por mais um dia.
Tudo termina com os olhos de Maria, e eles me sorriem agora.
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domingo, maio 02, 2004

Minha primeira perda.

Quando eu tinha uns quatro anos, meus pais resolveram adotar uma criança. Meu pai, hippie kardecista, se comoveu com umas crianças órfãs e convenceu minha mãe a adotar uma.
A escolhida foi uma menina chamada Sueli, era um ano mais velha do que eu, magrinha e meio invocada, mas a coisa que eu mais me lembro foi que na primeira vez que ela foi pra minha casa tinha as mãos cheias de feridas, muito mal tratada e órfã de pais vivos, que a haviam abandonado na Fundação. Tive um pouco de nojo, mas aquela fragilidade me conquistou.
Por três meses eu tive uma irmã mais velha, e como éramos crianças acho que brigávamos e tudo, mas tenho recordações boas, embora sejam poucas. Me lembro de andarmos juntos no banco de trás do Opala do meu pai, verde e colossal, e dela me mostrar que sua mão estava boa, somente com casquinhas. Não tive ciúmes típicos da infância, meus pais me contaram que ela precisava de nós, e que nós seríamos a família dela. Tive orgulho deles, e pena daquela menina, que seria minha irmã.
Quando tudo estava pronto para a adoção, os pais dela surgiram do nada e resolveram que a queriam de volta, assim após largá-la naquele “depósito” que rejeitados e crinaças indesejadas. A quiseram de volta simplesmente por vaidade e um orgulho doente, já que afirmaram que ela tinha pais e não seria adotada por uns burgueses quaisquer. Burgueses?!
Ela foi levada pelos pais e nunca mais a vimos, lembro de minha mãe chorando no carro, e meu pai quieto e olhando para frente. Eu estava agora sozinho no banco traseiro e também chorei, mas foi porque minha mãe estava chorando, não entendia aquela coisa adulta de poder e posse.
Queria saber o que foi daquela menina, logo após isso minha mãe engravidou e ganhei uma irmã e depois de cinco anos, mais uma (Carolina e Camila, meus amores). Mas nunca deixei de me perguntar de como seria ter uma irmã mais velha.
Seríamos amigos, estudaríamos na mesma sala, teríamos viajado juntos, e hoje talvez eu já fosse tio. Com certeza hoje eu teria pelo menos mais uma pessoa para amar.
Talvez eu continue amando aquela menina até hoje, magrinha e perebenta, enquanto rezo a deus para que a vida tenha tido ao menos metade do cuidado que meus pais tiveram com ela, naqueles três meses em que tive uma irmã mais velha.
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sexta-feira, abril 23, 2004

Minhas cinco maiores decepções:

1. Quando soube que fui traído.
2. Quando meu pai se tornou um ser humano comum.
3. Quando fiz minha mãe chorar.
4. Quando descobri que meus "amigos" eram todos interesseiros.
5. Quando soube que fui traído de novo.(isso não tem a menor graça)
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sábado, abril 17, 2004

A idade da loba.

Beatriz fazia quarenta anos naquela noite.
O céu estava lindo, com suas estrelas brilhantes, perdidas naquele azul profundo e negro, não havia Lua e o mar, muito próximo e calmo, era um espelho refletindo o infinito.
Seu marido já dormia, assim como seu casal de filhos, e ela tinha agora um tempo para pensar e fumar seus cigarros sem que ninguém reclamasse do cheiro enjoativo de canela e chocolate. Era um prazer infantil fumar, seu único vício agora que estava longe da bebida, o pequeno bastão em chamas e aquela linda fumaça serpenteando e se dissolvendo no espaço, azulada e perfumada, lhe fazia companhia e alegrava seu espírito.
Passou uma boa noite e esteve realmente feliz, mas o telefonema de seu irmão mais novo a colocara neste estado nostálgico e melancólico. Já havia dez anos que ela não o via, ele fazia parte da trupe do “Cirque du Soleil” e vivia viajando o mundo, era algum tipo de cigano e artista já que não possuía nem casa e nem carro e nem nada, é verdade que não tinha nem carteira de motorista e seu português adquirira um sotaque estranho, sem pátria, assim como seu francês e seu inglês. Tinha um pouco de inveja dele, mas não herdara seu sangue cigano e seu espírito sem destino, pois tinham pais diferentes e seu lado da família era formado por professores e bancários, todos infelizes e satisfeitos.
Era sempre bom poder falar com ele, mas a saudade sempre trazia algo de amargo, era bom ouvir sua voz, mas era ruim voltar a sentir a distância que os separava, já há anos.
Beatriz sempre preferiu as pessoas à distância, desde muito jovem aprendeu a ficar calada e se manter longe da rudeza humana. Os livros e o estudo sistemático sempre foram seus refúgios contra as pessoas, por isso escolheu uma carreira que a mantivesse longe de todos, mas não deu certo, pois embora fosse boa, muito boa mesmo, o que lhe dava prazer era escrever, e acabou por ficar famosa e também ganhar dinheiro, com a publicação de sua série de romances sobre as peças de um tabuleiro de xadrez e agora com adaptações dos poemas de Baudelaire para crianças. Por mais que negasse e se escondesse tinha talento, e também isso era doce e amargo. Diziam que ela era mal educada e arrogante, mas ela sabia o mostro que estava mantendo longe de sua casa.
Também pensava em sua mãe, imutável e perdida, seu pai, o homem mais calmo e minucioso do mundo (devia ter sido relojoeiro) e em todos aqueles que a fizeram fraca e submissa. Estavam todos errados, o mundo estava todo errado.
As únicas coisas certas eram a vida, o mar, sempre batendo em frente de sua casa e os sons que faziam aquelas pessoas que dormiam as suas costas, aqueles que ela amava e seus sonhos impossíveis.
Quarenta anos era uma boa idade para estar viva e ser feliz, e o destino que se fodesse.
Mais um cigarro e iria dormir.
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sexta-feira, abril 09, 2004

Eu odeio Setembro.

Eu fiquei parado ali na chuva vendo-a partir, ela andando sobre seus saltos com seu andar pesado e duro e eu com aquele sorriso idiota paralisado em meu rosto, sob a chuva fina naquela noite de Setembro, meus dentes batendo, meu corpo tremendo e meu coração mudo. Abandonado novamente.
Acho que foi a quarta vez ou talvez a quinta, mas foi a última, definitivamente. Pois nada pior que ouvir pela quarta ou quinta vez que você não é querido, um “deja vù” muito ruim, algo como um pesadelo em “looping” na sua cabeça.
É interessante como sentimos que o que é bom, quando termina é para sempre, mas o que é ruim tem uma infinita possibilidade de piorar e de se repetir, para sempre. Pois se parece ridículo ser largado pela quarta ou quinta vez, pela mesma mulher, imaginem ela te ligando pela sexta vez dizendo que te ama...Tua boca suturada, o maxilar doendo e a mulher pedindo perdão, é acordar dentro de um pesadelo acordando de um pesadelo.
Somos todos humanos, somos todos falhos e nossos erros geralmente se repetem por toda a vida, atrelada na nossa roda de culpa e autopiedade, mas alguma coisa tem que mudar, “something must give”, pois eu quero ter pelo menos uma chance de sobreviver ao meu destino, pelo menos uma esperança de uma chance.
Meus relacionamentos continuam imitando uma peça de Nelson Rodrigues, continuo vivendo entre a esquizofrenia e a realidade, continuo sem saber porra nenhuma de mim, mas vou continuar e sem aquela mulher de gênio imprestável e lindos olhos verdes, que me deixou com os lábios sangrando em uma noite de chuva.
Pela última vez.
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segunda-feira, abril 05, 2004

Um cheiro familiar.

Eu me lembro de Kurt Cobain.
Ouvir “Smells like teen spirit” pela primeira vez foi algo inesquecível, eu já conhecia a banda pelo seu primeiro disco, mas aquela música, com uma letra ininteligível, tinha alguma coisa de uma melancolia furiosa que não dava pra ignorar, direto no estômago e na segunda vez você já estava cantando junto. Aos berros e pulando.
Eu me lembro do Kurt Cobain como uma pessoa frágil, um garoto meio bobão, mas com muito talento e irresponsável o suficiente para ousar ser algo de novo e puro neste nosso mundinho do “pague agora e se foda para sempre”que a gente sustenta.
Eu me lembro do dia que anunciaram sua morte no Jornal Nacional e eu estava do lado do meu pai na sala de tv e não acreditei, acho que até chorei um pouco, mas eu não podia crer que o cara tinha se matado, e aquela vaca da mulher dele chorando na tv, para mim foi algo como um assassinato, uma execução.
Mas eu também senti um orgulho meio louco, pois o cara embora tenha deixado uma filha, simplesmente pediu licença, e disse “Hei, esse porra está toda errada! Não quero isso pra mim não... BANG!!!”, isso é muita coragem, muito desespero e muita tristeza. Algo que eu não suportaria por muito tempo.
E quando fiz vinte e sete anos, não pude deixar de pensar nele e de como eu me senti jovem e o cara já estava morto, eu todo enrolado com minha vida e o Kurt Cobain morto, e tudo que ele poderia realizar e ser, uma vida que ele poderia ter mudado e reconstruído não existiu, talvez ele nunca tenha sabido que havia outra maneira, tem que haver outra maneira.
Eu me lembro do Kurt Cobain e tenho saudades do bastardo.
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quinta-feira, março 25, 2004

Outono, 2004.

O outono começou com dias memoráveis.
Manhãs cinzentas, um Sol complacente e tardes belíssimas. Tenho gostado tanto a ponto de eleger o Outono minha estação favorita, sem o vazio do inverno e o desespero do verão.
Mas por incrível que pareça são esses os dias mais difíceis, a natureza tão mansa e terna a ponto de sufocar-me de tanto amor por tudo. É um querer tão profundo que meu coração não tolera, uma ansiedade e uma expectativa extremadas por coisas que nunca acontecem, que nuca mudam.
Sei que sou covarde e sei que sou fraco, além de qualquer problema com minha alto-estima e sem as afetações habituais de minha alto-comiseração. Faço aqui um exercício de libertação, de coisas que devem ser expostas para que algo novo possa surgir, afim de que algo mais puro possa prevalecer aos círculos viciosos de meus erros.
Vocês, meus amigos, que me atirem pedras quando virem meus olhos cansados, que me cuspam na face quando sentirem meus ombros arqueados e façam de minhas pequenas tragédias sua diversão e entretenimento.
Sem voyeurismo, sem tara, façam por piedade desse seu comparsa. O façam para que eu possa usá-los também, aqui neste Mundo Fantasma onde todos somos pouco mais que sombras.
Eu quero ver tudo.
Eu quero trepar com todo mundo do planeta.
Eu quero fazer algo que importe.
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domingo, março 21, 2004

O suor de Eder Jofre.

Meu pai queria ser um lutador de boxe.
Ele era um moleque alto e franzino, tinha um gênio imprestável e criava um galo de briga, inspirado por meu avô, um homem merecedor de um romance em três partes que será escrito um dia, mas voltemos ao meu pai.
Ele era fraco e abusado, mas teimoso como uma mula e talvez tão esperto como uma.
Tinha um par de luvas profissionais enormes e velhas que eram seu orgulho. Eram antigas e usadas e tinham um cheiro acre de suor, de muitos suores passados, e na verdade ele não conhecia a origem certa daquelas luvas, diziam que seu pai a recebera como pagamento de um mau jogador e que fora usada pelo próprio Eder Jofre, ou pelo menos foi isso que alegou aquele homem desesperado e sem dinheiro.
Treinava sozinho, apenas com a ajuda de seu irmão adotivo, Zé Bequita, um negro de pés chatos que era seu irmão e filho de seus pais, mas que no fundo era tratado como uma espécie de servo, babá do meu pai e “faz-tudo” particular.
Era uma rotina solitária e cansativa, por mais que ele socasse e pulasse cordas, alguma coisa o mantinha magro e com um fôlego curto demais para agüentar onze assaltos contra o campeão dos médios-ligeiros, e só lhe faltavam cerca de vinte quilos, em músculos, para poder entrar no ringue e se tornar famoso, comprar um lindo Cadillac conversível e se casar com Ingrid Bergman, ou com Carole Lombard ou com qualquer atriz de cinema desde que fosse loira e linda, e eram tantas pregadas nas paredes de seu quarto...
A melhor parte de tudo isso era olhar para aqueles outros moleques, e saber que não eram páreo para ele, quase um profissional, saber que diferente deles não seria mais um funcionário empoeirado da metalúrgica, e como era bom esmurrar aquelas caras magrelas e espinhentas que riam dele, que o humilhavam e o faziam se sentir mal consigo e com vergonha de seus pais, sempre devendo alguém, falando alto e gritando palavrões.
Eles riam e debochavam até que um cruzado ou um direto fazia sangrar seus narizes melequentos e seus olhos lacrimejarem, mas após o triunfo inicial perdia suas forças e seu ímpeto enfraquecia, fazendo com que ficasse apático a vitória ou a derrota que vinha em seguida, restando-lhe correr e fugir com rapidez e sem nunca olhar para trás.
Restava-lhe seu quarto, empoeirado demais para um menino asmático, suas atrizes e seu choro solitário, restava-lhe sonhar com aquele lindo Cadillac que fora levado de seu pai sem nunca ter saído da garagem, restava-lhe a fé naquela santa com o rosto negro de tanto beija-la, e que ela fizesse seu coração bater devagar novamente, suas pernas pararem de tremer e que o ar entrasse em seu corpo calma e lentamente de novo.
Guardo hoje, uma linda foto do meu velho com aquelas luvas encardidas, e por entre sua guarda alta, além de suas costelas à mostra, pode-se ver, se olhar com muito cuidado, todos os sonhos de um menino que lutava contra a fome, a asma e um destino duro demais para alguém tão frágil.
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sexta-feira, março 19, 2004

Cinco coisas que nunca fiz:

1. Nunca atirei em ninguém.
2. Não namorei uma prostituta.
3. Não vomito por mais bêbado que eu fique.
4. Nunca tomei facada na barriga.
5. Nunca fui pego me masturbando no trabalho.
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segunda-feira, março 15, 2004

Três homens com amor no coração.

Sempre tive uma atração por pessoas controversas, por perdedores e malditos. Assim escolho meus amigos, minhas namoradas e meus “ídolos”. Gosto de pessoas com cicatrizes, tatuagens, gosto de mulheres com olheiras e alguns dos meus amigos já estiveram na prisão.
Indo por aí comecei a ler Charles Bukowski. Sim, eu sei que demorei para descobri-lo, mas o importante é que estou lendo o cara, ou pelo menos os livros dele.
E logo no começo, em suas loucas biografias disfarçadas de romances, eu percebi que assim como na maioria das pessoas, esse rótulo de “maldito” esconde uma pessoa muito doce e gente boa. Bukowski é um romântico! Bêbado, bagaceiro e maltrapilho, mas um romântico incurável e obsessivo. E talvez mais romântico por ser tão despreparado para viver nesse mundo miserável onde as pessoas são julgadas pelo que eles compram e não pelo que elas são.
Automaticamente, quando se fala de amor o obsessão, me lembro de Nelson Rodrigues, que até hoje é negligenciado por ter esse rótulo de tarado. Nelson foi o homem que mais amou no Rio de Janeiro, foi o homem que mais amou na literatura brasileira, sem medo da emoção.
Nelson é obrigatório, é essencial e vital para qualquer pessoa que se interesse o mínimo pelo ser humano, sem pretensões filosóficas e antropológicas em sua literatura você reconhece tudo de bom e de perverso que o homem pode ser. É a nossa vida ali, escancarada.
E eu fico aqui, escrevendo entre esses caras, Bukowski, Nelson Rodrigues, John Fante...eu também com as minhas obsessões, eu também com meu amor...tentando fazer de viver um ofício mais digno, mais divertido, menos bundão.
E acreditem que nesta semana um cara estava dizendo de como ele me acha calmo e controlado, mas na verdade acho que ele estava me chamando de bunda-mole.
Logo eu que me acho tão cool...
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sexta-feira, março 12, 2004

Preto, verde e vermelho.

Estava ficando difícil dirigir daquele jeito.
O sangue coagulado em minhas mãos era viscoso e parecia cola, grudando no volante e fedendo, fedendo muito, com um cheiro acre e parecido com alguma coisa de chumbo. Tinha náuseas violentas e meus olhos ardiam, queimados pela pólvora.
A mulher ao meu lado estava pálida e imóvel, e parecia morta não fosse pela respiração ofegante e pelas lágrimas que corriam incessantes de seus olhos verdes, limpando o sangue seco em seu rosto.
Não era pra ser assim, tudo devia estar bem agora, com uma bela menina do meu lado, um dinheirinho no meu bolso e aquele velho fora do nosso pé. Mas ele tinha que ser machão, manter aquela pose de lutador de boxe aposentado que nunca lutou bosta nenhuma.
Além de velho (como eu odeio os velhos!), tarado (como eu odeio pervertidos!) e burro (como eu odeio gente burra!), metido a valente...Agora está morto e uma coisa que não me incomoda é gente morta. Mesmo quando emporcalham a mim e ao meu carro de sangue. Foda é o cheiro.
Mas eu mandei ele parar. Avisei que não tinha saco pra ficar de briga com um cafetão de merda como ele. Era só liberá-la, dar o dinheiro que ela tinha direito e sair da frente, mas não, ele tinha que ficar em cima dela, batendo na menina e me apontando aquele 38 enferrujado e a coisa que eu mais odeio no mundo é gente escrota me apontando arma.
Acho que ele nunca tinha visto uma Desert Eagle antes, senão tinha ficado quieto. Até ele engatilhar aquela velharia e me apontar já tinha cérebro em cima de todo mundo, foi a coisa mais feia, aquele buxo velho sangrando em cima da minha menina, foi nojento coitada.
Só me preocupa a longevidade de relacionamentos que começam dessa maneira. E ela continua linda...Cabelos pretos, olhos verde e vermelho carmesim, muito carmesim.
Ela vai ficar melhor, eu sei, assim que passar o susto e lavar os pedaços de miolos do seu cabelo...
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terça-feira, março 09, 2004

A verdade sempre, sempre a verdade.

O dia mais difícil foi quando ela disse que não me amava mais.
Era uma manhã já cheia de tristeza e aborrecimentos mesquinhos, acho que fazia calor mas sei que o céu estava azul, limpo. E ela chorava no sofá da sala, chorava como se eu a estivesse deixando, com dor em sua voz.
E ela não apenas disse como gritou as palavras: “Eu não te amo mais!”.
Repetidas vezes, e cada vez mais alto, até calar-se e chorar novamente, cobrindo o rosto com as mãos em concha, suplicando para que eu fosse embora.
Eu fiquei ali, me sentindo como um menino que tinha feito algo muito ruim. Perplexo, assustado e furioso. Minha irmã estava lá, e pude ouvir seu choro abafado do lado de fora da casa, e tenho por ela uma gratidão eterna por ter chorado lágrimas que eu não chorei, por ter suspirado e gemido por um amor perdido; ela sofreu no meu lugar, minha irmãzinha.
Fiquei calado, vendo aquilo tudo como em um filme que não queremos esquecer, captando os detalhes enquanto sentia o vazio crescendo dentro de mim, abrindo espaço para suportar uma dor maior que a vida, maior do que eu.
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terça-feira, março 02, 2004

Um pecado de cada vez.

Ela continuava lá, deitada, um cigarro na mão esquerda e os olhos fixos em mim.
Aquilo era como o inferno, os olhos castanhos calmos e profundos, esperando alguma coisa, qualquer coisa de mim. Para ela, só para ela.
E eu sabia o que veria depois, alguns resmungos, apagaria o cigarro e ficaria triste, como sempre, esperando algo que fosse só para ela, alguma coisa que residia fundo em mim, morta, esquecida.
Raquel me disse a coisa mais triste que já ouvira de mulher, e aquilo me fez chorar quando ela não estava. “Toda vez que transamos fico apaixonada por você, e depois te perco...”.
Eu nunca me apaixonei por ela. E pra falar a verdade, gostava mais de sentir falta dela, o vazio dela em minha casa me era mais caro, mais verdadeiro.
E ela sempre falou demais, pecado menor eu sei, mas sempre confusa e querendo mais, mais e melhores blues.
Tédio, perdas, redundância, neuroses, redundância, perdas, tédio.
Assim sem destino, sem lugar e sem apego.
A Raquel se encheu de mim, e foi fazer veterinária.
Menina esperta.
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terça-feira, fevereiro 24, 2004

Rosa-de-luto, um final.

Ela já estava dirigindo há seis ou sete dias, não tinha mais certeza; não sabia sequer o Estado em que estava, mas isso não era problema, saberia quando chegasse na fronteira e aí tudo estaria terminado, assim esperava.
Acordara sozinha naquela manhã,há seis ou sete dias, e a casa estava quieta, quieta demais e isso lhe deu uma sensação ruim, um aperto na barriga, e tudo fez sentido quando viu o bilhete sobre a mesa da cozinha. Ele havia morrido, aquele idiota, aquele velho maluco...chorou e quebrou algumas coisas na cozinha e chorou novamente enquanto recolhia os cacos.
Ela tinha que ir embora, estava escrito no bilhete, devia ir pra Argentina e ficar lá. Havia dinheiro e até uma casa pra ela lá, algo que só ele conhecia, seria seguro e ela talvez fosse feliz lá. Ele era um idiota, talvez a bebida tivesse matado neurônios demais naquela cabeça dura e grisalha.
Em Andirá, uma cidadezinha no Paraná, ela viu a notícia na televisão, uma tragédia eles diziam. Um assassino de aluguel havia invadido a mansão de um juiz federal (minúsculas propositais) e após uma troca de tiros feroz havia matado, além do juiz, dezessete agentes federais, dezessete! Tudo não durou mais que vinte minutos, e o homem ferido, pelo que tudo indicava, se sentou e sangrou até morrer. Quando a polícia chegou, o cigarro em sua mão ainda estava aceso. Parecia uma cena de “Matrix”, um delegado falou, a porra de uma cena de filme.
Ninguém mencionou o porque de tantos agentes naquele local, nem as drogas e muito menos os dólares que agora deviam estar seguros nas mãos de outros canalhas como seu pai. Ela torcia pra que ele tivesse sofrido ao menos um pouco, mas sabia que dois tiros na cabeça não dão muito tempo pra pessoa se arrepender das merdas que fez com a vida da mulher e da filha.
Ela iria sobreviver, era jovem, tinha certeza que sim. E tudo de bom que acontecesse em sua vida seria uma homenagem praquele cara estranho que estivera com ela por dois meses, calado demais, sério demais, mas que gostava dela, apesar de dar uns tapas em sua boca que doeram pra valer.
Mais uma noite chegava naquela estrada reta e entediante e naquele lusco-fusco sua tatuagem doía um pouco, como se fosse recente ardia em suas costas.
Nada demais, era apenas saudade.
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sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Cinco pessoas com as quais eu poderia sentar, beber e conversar por horas:

1. Neil Gaiman.
2. Clarah Averbuck.
3. Marcelo Camelo.
4. Nelson Rodrigues.
5. A vizinha da minha irmã em Niterói, que é tudo de bom.
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quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Uma noite muito longa.

Fui acordado hoje pela chuva, pelo vento e por uma voz feminina. Uma voz fraca e longínqua, um grito pelo meu nome, quase que um choro, disfarçado como o vento, escondido pela chuva, me chamando do passado.
É como se fosse um pedido de socorro ou alguma coisa que exige vingança, que demanda sangue derramado, gota por gota, lágrima por lágrima.
Não posso mais fugir.
Fico sentado na cama, acendo um cigarro fedorento, algo entre canela e chocolate, e fico vendo as gotas de chuva escorrendo pela janela, sentindo a fera dentro de mim, sempre a espreita, crescendo e ficando mais forte. Não há álcool suficiente neste mundo capaz de calar essa coisa que insiste em viver em mim, despertada por nuvens cinzas, pela chuva fria e pelas lembranças de um passado nada glamouroso.
A vida segue em seu passo fatalista, os erros levando a culpa e esta ao castigo, uma roda terrível e tediosa, tornando as horas longas e repetitivas, tornando tudo que é azul em um cinza indiferente, sarcástico.
Não é mais possível fugir.
Ela ainda dorme ao meu lado, sua pequena borboleta continua ali, congelada em pleno vôo. Está habituada ao meu tédio e aos meus cigarros vagabundos, afeita aos meus silêncios e minha melancolia, mas alheia de minhas responsabilidades, de meus débitos.
Olho para ela e suspiro profundamente, soprando a fumaça para o teto, em espiral.
Amanhã a esta hora já estarei morto, livre ou condenado não sei, mas vou sentir falta desta menina, isso eu sei.
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sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Deuses Americanos e um Inglês.

Hoje acabei de ler Deuses Americanos, de Neil Gaiman, e acho que estou chovendo no molhado, mas o cara é simplesmente o maior. Ele tem uma forma de escrever que faz com que você, além de não conseguir parar de ler, fique apaixonado por ele, não só pelos personagens, mas pelo próprio Gaiman. Sem viadagem...!
È como o Vinícius de Moraes, é impossível ler o cara sem o admirar muito, é uma coisa que vai além do que está escrito. Você fica com vontade de encontrar o cara e dar um abraço nele, agradecer e sentar pra beber e bater papo. È uma empatia irresistível.
Após terminar minha leitura (na verdade fiz meu serviço correndo e meio nas coxas pra me sobrar mais tempo), estava voltando pra casa ouvindo The Strokes (fodidamente bons, tão fodidamente bons...) e experimentei um verdadeiro momento de felicidade, a tarde cinzenta, a velocidade e boa música, e aquela sensação única de quando você acaba de ler um livro muito bom, muito bom mesmo.
Tudo fez sentido por alguns minutos, tudo estava em seu lugar do jeito mesmo que está, sem nada a perdoar, sem nada pra se arrepender, com o livre arbítrio sendo nada mais que uma ferramenta pra se cumprir o destino, e sem final feliz porque simplesmente não existe final pra porra nenhuma.
Muito obrigado senhor Gaiman, valeu mesmo...
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quarta-feira, fevereiro 04, 2004

As cinco coisas mais estranhas que já escutei de mulheres:

1. Te amo.
2. É para o seu próprio bem.
3. Meu cu está em chamas.
4. Quero casar com você.
5. Me dá porrada pelo amor de deus.
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segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Amor de muito.

Ele a beijou com vontade e um pouco de raiva, e pode sentir o gosto salgado do sangue em sua boca, antes que ela afastasse a cabeça o olhando com raiva.
Você, pra mim, não passa de um animal! Disse Renata limpando sua boca e dando uma cusparada no chão; Um animal!
Ele sinceramente não se sentiu ofendido, e dando um meio sorriso quase agradeceu, mas preferiu não provocar demais a fera, que fumava seus cigarros fedorentos enquanto o olhava com rancor.
Ela não sabia, melhor, não tinha a menor idéia de como ele a amava; quando estava quieta fumando sempre ficava por perto, observando a maneira com que ela inalava a fumaça com os olhos fechados, com o cigarro no canto da boca e a soltava lentamente, quase que um ritual, pelo menos para ele. E nunca cansava de admirar sua tatuagem, uma borboleta "rosa-de-luto" preta e lilás em suas costas magras, a coisa mais linda que ele já havia visto no corpo de uma mulher.
E ela o achava rude e seco, assim sem metafísica nenhuma, talvez pela forma com que ele aprendeu a esconder seus sentimentos e pensamentos de todos ao seu redor. Nunca deixe que outros saibam o que você está pensando, dizia seu pai sempre furioso, pronto para lhe dar outra surra. Aquela violência era outra cicatriz de um passado sem muito glamour, onde as mulheres sempre eram tratadas assim, com doçura e violência, e ele, um moleque desaforado e fracote era tratado sem doçura, só a violência fazia parte de sua rotina, assim sem metafísica nenhuma.
Mas ele não era mais moleque e nem fracote, se tornara um homem simples, rude e calado, mas capaz de enfrentar outro inferno por aquela menina magra, fumante inveterada(dos cigarros mais fedidos do mundo)e com uma borboleta triste em suas costas.
Se lembrava sempre do dia em que a encontrou na praia e ela disse que sua borboleta era uma "rosa-de-luto", esse nome, aqueles olhos castanhos doces, e o jeito de moleca sem compromisso fizeram com que ele se perdesse completamente, o levando até aquela situação de fuga e insegurança.
E ela nunca soube, nunca chegou a vislumbrar aquele amor maior que a vida que sempre esteve ali ao seu alcance.
Um amor de homem.
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segunda-feira, janeiro 26, 2004

Acordado para a vida.

Essa semana estava no serviço, enrolando e tentando lidar com uma ressaca daquelas, quando zapeando na Net, cortesia de um colega separado que não tem onde enfiar a antena, me deparei com um filme simplesmente absurdo. Waking Life.
Todo em animação sobre filme digital, com os mais variados estilos e leituras dos personagens, conta a história de um cara que fica preso em seus sonhos, incapaz de acordar, que começa a questionar a própria existência dos sonhos e da realidade e da vida e por aí vai. Esteticamente lindo e intelectualmente inquietante. Você precisa assistir.
Talvez pelo gosto de toda aquela tequila ainda estar na minha boca, e do zumbido em minha cabeça, o filme me pareceu hipnótico e todo aquele caos e a incerteza de estarmos vivendo em mundo real ou imaginário me tornaram algo letárgico e confuso.
Perspectivas para um estilo de vida moderno:
A bebida e as drogas não nos levarão a lugar nenhum,pois nossos pais continuam aqui e eles beberam e usaram tantas drogas como nós; Será que foi por isso que eles ficaram assim?!
O suicídio levou os justos e racionais, e eu já falei sobre isso, não vou me meter nessa de novo. Me tornei muito obtuso e simplista para me matar, não tenho mais tanta subjetividade.
Somente uma insistência em questionar as coisas, um mania neurótica de querer fazer as coisas do meu jeito, ou pelo menos com minha permissão. Uma vontade de mudar de novo, de começar de novo e de me entregar...sem agústia existencial.
Só me resta um desejo de abraçar o Caos, sem objetivos diretamente lucrativos, sem previdência privada, sem roupa de marca, sem casa na praia e sem a porra do carro do ano.
Chet Baker continua tocando My funny Valentine no meu cd, vou fumando uns cigarros fedorentos e bebendo só pra brincar de suicída; acordado para a vida e distraído para a morte.
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segunda-feira, janeiro 19, 2004

Amenidades.

Descobri mais uma mulher que eu adoro: Clarah Averbuck. Ela é simplesmente demais, linda e louca, completamente rock´n´roll!!! Vocês precisam conferir o ex-blog dela que está linkado aqui e seu primeiro livro, uma alto biografia disfarçada de romance chamado Máquina de Pinball, muito engraçado, muito irado e é tudo de bom mesmo.
Clarah eu te adoro!!!
Estava ouvindo Interpol e eles também são bons demais, e é o tipo de banda que sempre quis ter, músicas tristes com ótimas letras e super bem vestidos e com aquele ar blasé, cheios de tédio; mas com esse nosso clima tropical não dá. Como ser blasé e tristonho de shortes e camiseta, suado? Não dá, cara, já tentei mas não dá mesmo...só em Nova York ou talvez Londres, no frio e com cachicol. Meio Bob Dylan meio Albert Camus.
A bebida tem me proporcionado bons momentos de entretenimento e diversão, e embora já me tenham acusado de alcoolatra, não levei isso como uma ofensa pois na verdade venho cultivando o hábito de beber já há uns dois anos e somente agora consigo ficar legal sem pagar mico geral, como zoar com a mãe dos outros e chamar o anfitrião de mentiroso e essas coisas que fazemos quando estamos além da zona do crepúsculo, só escapei de beijar mulher feia, pelo menos até onde me lembro, mas fiz xixi no colchão da Gabriela, foi mal...
Preciso escrever para os meus amigos, preciso ligar para os meus amigos, preciso de novos amigos. E dizem que preciso de objetivos na vida e de uma visão de carreira mas isso não tem a menor relevância atualmente, estou por aí, simplesmente vivendo, tentando me divertir um pouco e talvez alcançar a iluminação pelo bem de todos os seres.
Om Mani Padme Um...e o resto que se dane...!
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sexta-feira, janeiro 16, 2004

Um ano e quatro meses.

Rachel o amava de verdade. Agora que a distância se tornara uma barreira intransponível entre eles, ela se lembrava de Samuel e sentia amor, mais do que saudade, naquelas noites frias em São Paulo.
Ele é um poeta, ela dizia para as amigas, embora nunca tenha escrito uma linha sequer, ele tem uma alma de artista, completava enquanto se lembrava da maneira com que ele olhava a chuva com alegria e se emocionava com cachorros vadios, os chamando de filhos e lhes dando comida de seu próprio prato.
Samuel era afeito a indignações das mais profundas e eloqüentes e Rachel as ouvia pacientemente fumando seus cigarros, enquanto ele fazia discursos e se virava contra a maldade e apatia dos “homens de bem”, e lhe contava de seus pequenos planos e vinganças, como da vez em que fez xixi na escova de dente de um escroto do trabalho e dos doces que roubara de outro pulha para levar de presente pra sua mãe, cocadinhas de leite; um rebelde com o coração de ouro é o que Rachel pensava sobre ele. Tão bom e tão incapaz de realizar as mais simples tarefas do dia-a-dia, sempre ocupado indo ao fundo de tudo.
Talvez fosse por isso que às vezes Samuel se calava, se tornava apático e entediado, como ele dizia, e ela percebia aquele brilho gelado em seus olhos o deixando de lado até que passasse.
Ela já não o visitava há sete meses, mas de alguma forma sabia que ele estava bem pelas cartas que trocavam pelo menos duas vezes ao mês, e para ele assim estava melhor, sentia menos saudade sem vê-la. Mais uma de suas loucas contradições.
Na última vez em que se viram, ela lhe perguntou o porque, após estar tomando coragem por dois anos, e ele disse que foi pelo tédio que aquelas rudezas do comportamento humano provocam nele, simplesmente me encheu o saco, ele disse justificando o espancamento que o juiz entendeu como tentativa de homicídio por motivo fútil. Aquele homem gordo, velho e podre nunca mais ia andar direito, se andasse.
Faltavam agora um ano e quatro meses para que ele voltasse e se quisesse vir para São Paulo morariam juntos, ela e aquele louco que tanto amava.
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quarta-feira, janeiro 14, 2004

Eu queria ser um Tenebaum.

Existe um filme que me toca muito, Os Excêntricos Tenenbaums(assim no plural), e ontem eu o assisti, acho que pela décima vez, com o mesmo entusiasmo e alegria de sempre, bebendo um espumante e em boa companhia( ela só temia que eu ficasse sorumbático, suas palavras, após o filme; não fiquei).
Mas como sempre me ficou aquela sensação: Eu queria ser um Tenebaum!
Não um dos personagens maravilhosos do filme, mas eu mesmo só que Tenebaum.
Ser uma alma perdida, marcado pela desgraça e pelo fracasso, um impostor, um perdedor irresistível e embalado por uma trilha sonora irretocável, é o que eu chamo de perfeição.
Sempre tive essa atração pelas "Almas Perdidas", uma sina que persegue minha famíla há pelo menos cinco gerações, esse amor pelo torto, uma queda pelo marginal e uma irrestível atração pelo abismo. Acho que é essa mistura de sangue judeu/russo/cigano que nos deixou assim meio tortos também.
Por isso as vezes me chamo Augusto Tenebaum e posso fazer o que quizer, ser obsceno, genial e sacrílego, amar a vida e declarar isso aos berros enquanto planejo meu suicídio para o dia seguinte.
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quarta-feira, janeiro 07, 2004

Saudades de mim mesmo.

Lá fora chove, e aqui dentro tudo continua como sempre, quente e lento.
Sei que alguém sente falta de mim, em algum lugar, e sei que talvez ela esteja melhor sem mim. Menos preocupada e mais leve, livre de meus fantasmas, minhas neuroses e minhas histórias bárbaras sempre a assombrá-la, talvez esteja pelo menos mais alegre sem mim.
Algumas vezes a vi chorar e se lamentar, e sei que que era minha culpa, não completamente, mas me pesava como se fosse; sempre assim, com um mundo nas costas.
Sei também que no fundo ela nunca mais chegue a ser uma pessoa feliz, já que algumas feridas não cicatrizam jamais. E isso eu fiz, marcas profundas como tatuagens, uma para cada dia infeliz e para cada lágrima em vão, lenta e quente como esta noite desesperada.
Mas sei que ela sente falta de mim.
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segunda-feira, janeiro 05, 2004

Só termina quando acaba.

Tudo voltou a fazer sentido de repente, em forma de dor e um cheiro de pólvora e sangue. Aquele infeliz havia lhe dado um tiro, bem ali em seu quarto, após tanto tempo e por tão pouco. Mal podia se lembrar agora de quanto lhe devia, mas não era nada comparado com o sacrifício de aturar seu jeito grudento e asqueroso por tanto tempo,aquele merda viciado em speed. E Daiane estava com ele agora...que se dane.
Não estava triste, apenas achava estranho morrer daquele jeito, naquele quartinho alugado sem a menor personalidade, mas não deixava de ser algo engraçado, melhor irônico, terminar assim depois de todas as loucuras e drogas e merdas que tinha feito naqueles vinte e oito anos de vida, tinha até um emprego e um salário agora. E Daine ainda gostava dele, ele sabia, mas ela gostava mais de cocaína, ele também sabia.
Sirenes estavam chegando, ele podia ouvir seus sons nervosos, e algo se moveu dentro dele, algum apego e algo de afetuoso por aquela vida comum, cotidiana e previsível. Seu sangue era muito vermelho e saía quente de sua barriga,mas ele sabia que não iria mais morrer, quer dizer, não naquele quartinho alugado, naquela noite abafada e sem graça.
Quando os paramédicos chegaram com seus aparelhos e códigos sentiu-se lisongeado por toda aquela atenção e cuidado, e eles lhe pediam calma e diziam
"Força rapaz, tudo vai acabar bem..."
E ele sabia que talvez nem tudo terminasse bem, mas viver era bom.me envie um e-mail