sábado, janeiro 28, 2006

Uma pequena música noturna.

Estávamos deitados um ao lado do outro, nus naquela cama com os lençóis soltos, não importa o que eu fizesse, o tamanho ou a presença de elásticos, o lençol sempre saía e acabávamos deitados diretamente sobre o colchão. E ela sempre se irritava, mas não especialmente naquele dia.
Estava quente, havíamos transado e havia sido bom, muito bom na verdade. Suados e descabelados de frente um para o outro, eu ofegando um pouco e ela calma como um felino. Estava tocando Imogen Heap, bem baixinho, ela olhava pro meu peito e eu para seu rosto, com a face corada e pequenas gotículas de suor sobre o lábio, os olhos baixos e a respiração leve, quase imperceptível.
Você me parece muito doce, assim toda desarrumada.
Murmurei com a voz grave e preguiçosa.
Você me parece triste.
Ela disse baixo e me olhou diretamente nos olhos, com aqueles mais profundos olhos castanhos. Senti um bolo no estômago instantaneamente.
Que é isso? A gente acaba de transar como dois bichos e você me diz que eu tô triste?! Tá louca, menina...
Não é isso. Ela tornou a baixar os olhos, com os lábios vermelhos entreabertos.
Não agora, mas você me parece um homem triste. Eu fico tentando te entender quando você fica quieto olhando pro vazio; sei lá, me dá um pouco de medo, de solidão. Me lembra o meu avô quando estava no asilo.
Muito obrigado, eu respondi rindo, te lembrar seu avô é excelente!
Não é isso, seu bobo! Ela deu um pequeno, mas sincero sorriso que aliviou todo o peso que estava no meu peito.
Vocês homens são assim, quando são jovens querem dominar tudo a sua volta e agem como cachorros em eterno cio, uns babões. Querem foder o mundo inteiro e de repente quando envelhecem e deixam de ser uns completos boçais vão ficando tristes. Pelo menos os que conheci eram assim como você. E eu não consigo entender isso cara, e acabo me sentindo uma merda.
Terminou suspirando profundamente, o que fez seus seios balançarem de forma leve e delicada. Eu fiquei olhando para ela, em toda sua beleza e fragilidade, quieto e com uma expressão neutra, que eu sabia que fazia as pessoas erroneamente pensarem que estava de mau humor.
Nem todos são assim, no final das contas. Penso que somente os que se mantêm vivos, só os sobreviventes ficam assim. E não acho que isso tenha a ver com potência sexual, calvície e essas merdas de envelhecer. Sem sacanagem, sem melodrama, mas acho que isso é coisa de homem durão solitário. Você fica velho, se dá conta da solidão do mundo, fica mais calmo, calado e vai vivendo da melhor maneira que pode.
Lá vem você, senhor Clint Eastwood com espada de samurai metido a besta, Toshiro Mifune com chapéu de cowboy, debochou ela com cara de moleca contrariada.
Não é isso linda...
No fundo você fica se achando o charmoso assim, todo melancólico, falando baixo, e eu acabo caindo feita uma boba...
Ou isso, ou eu simplesmente li livros demais, assumi, e ouvi muita música triste. Eu penso que esse sempre foi meu problema, e muitos filmes de guerra também.
Ela se sentou, pegou um cigarro e jogou seus cabelos pro lado, deixando suas costas magras à mostra, suas costelas aparentes e a borboleta tatuada, em pleno vôo. Eu continuava memorizando todos os detalhes, sempre viciado aos detalhes.
Acendeu o cigarro de forma lânguida e ficou me olhando de lado, enquanto inalava a fumaça azulada com o canto da boca.
Sabe o que eu acho disso, Senior?! Falou com seu pior sotaque castelhano.
O quê..?
A fumaça saiu de seus lábios entreabertos, subindo lentamente, serpenteando até o teto e além.

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domingo, janeiro 15, 2006

Cinco coisas que vou fazer em 2006:

1. Trabalhar um pouco menos.
2. Aprender a fazer todo tipo de pães e biscoitos:
3. Comprar um bom saco de dormir e viajar.
4. Continuar tomando meus porres.
5. Arrumar um canto pra viver sossegado.
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