quarta-feira, outubro 27, 2004

Eu aponto a Lua e você olha pro dedo.

Eu tenho um sentimento.
Eu tenho um sentimento muito fundo no meu coração.
Um sentimento que eu não consigo esconder.
Mas eu vou fingir como ninguém, a fim de tentar me controlar.
È um tipo de fragilidade. Uma coisa sutil, suave e nova, e realmente me surpreendo em descobrir esse tipo de coisa a esta altura do jogo, da minha vida.
Sinto falta dos amigos e da família, me sinto só como nunca. Mas o inédito é que está tudo bem.
Continuo sentindo a dor, mas é como se fosse a dor de outro, sinto tudo do mesmo jeito, mas é como se fosse outro a chorar e ranger os dentes. Continuo a beira do abismo, olhando fundo em seus olhos opacos, mas ele não me olha mais de volta; somos estranhos um pro outro e nem nos cumprimentamos mais, o desespero e eu. Até o excluí no orkut, pois ele não é mais meu amigo.
Isso não muda nada na minha vida.
E muda tudo.
Eu tenho um sentimento fundo no meu coração.
E é muito difícil conter as asas que estouram em minhas costas, muito duro continuar andando pelo chão quando posso voar e me livrar de tudo de pobre e triste que este mundo trás para mim.
Eu vou fingir como ninguém jamais fingiu!
Somente para continuar aqui.
Do seu lado.
E você nem vai notar.
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quarta-feira, outubro 20, 2004

Cinco coisas que valem a pena se você tiver coragem:

1. Ter um filho.
2. Encarar um relacionamento por aquilo de bom que ele tem e não pelo que você vai ganhar com ele.
3. Dizer não pros outros e sim pra você mesmo.
4. Fumar maconha no banheiro do colégio.
5. Ser você mesmo, contra tudo aquilo que esperam que você seja.
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segunda-feira, outubro 18, 2004

O universo dentro de uma gota.

É obvio que não estava em meu estado de consciência cotidiano. Ricardo Tolomelli e eu estávamos mais uma vez testando os limites do dia-a-dia e da vida comum, lisergicamente falando. Embalados pela amizade e pela mais pura alegria de meninos, cristalinos e sorridentes meninos, com os olhos brilhando e patéticos de euforia e assombro.
E ouvindo Der Ritte Draum eu pude percebê-la claramente. Estava em toda minha volta, eu respirava sobre ela e me apoiava sobre seus braços.
Era como um peixe imerso em sua existência suave e perene. Era ela em tudo, o tempo todo e sempre, infinitamente reafirmando a vida e tudo que cresce e caminha pra seu fim, em loops fatais e infinitos, dobrando-se sobre si mesmos.
Um fractal, essa foi a imagem física que percebi, fractais. Mas não somente fractais, e sim Mandalas prateadas e verdes, infinitas e circulares, formadas por ossos humanos e crânios. Mandalas fractais de ossos e crânios.
Vocês têm que entender que estou tentando colocar no papel (papel?) uma realidade a parte, mas que existe aqui e agora, oculta de nossos olhos repletos do cotidiano e do corriqueiro, estou tentando traduzir em palavras uma experiência mística, metafórica e estritamente pessoal. Mas o que realmente é inacreditável é não percebermos tudo isso na nossa vida comum, mas está tudo aqui, sempre esteve e é triste e desesperador nós nos esquecermos disso tudo. Como se esquecêssemos de nossas mães, de nossos filhos, de nossos próprios nomes.
Mas naquele momento sem tempo e sem destino, eu pude mais uma vez mergulhar-me em seus braços doces e me entregar ao vácuo, onde tudo é cor e movimento, me senti protegido e embalado pela certeza de que tudo funciona, que estamos todos bem, assim mesmo como estamos e de que todas essas coisas pequenas e absurdamente reais são o que realmente importa.
Abraços amigos, carinhos descompromissados, um sorriso doce e lágrimas salgadas rolando pela face. A solidão de nossos dias, e a luz que esperamos encontrar, todas as razões e nossa incessante busca por felicidade, tudo isso está certo e não há qualquer sentido que dê razão a vida, além do próprio viver, até que se quebre a Roda, o Samsara e tudo se torne um. Sem fim e sem começo.
Tudo isso eu percebi claramente, como sempre soube, sentado ali na sala do belo apartamento do nosso Rico Suave.
E me perdi e me encontrei enquanto dançava sobre a Morte e suas Mandalas Fractais.
Pra comemorar uma cerveja na janela, transcendente como nunca, as 6:30 da manhã, era uma segunda feira e nada importava.
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terça-feira, outubro 05, 2004

Talvez não seja certo amar demais.

Eu vou sair.
Vou ficar só.
Mais uma vez tudo se repete em minha vida e aqui estou eu.
Com aquela velha dor vazia no peito.
Tão cansado que não posso dormir, meu corpo dói e minhas costas doem e tudo é desconforto e bagunça. Meu apartamento está imundo e zoneado e estou barbudo e triste
Mas isso é minha vida e o que eu posso querer mais?
Agora não me arrependo mais de nada. Aceito tudo. Sem pudor nenhum e nem culpa, e acho que isso se chama coragem.
Eu queria chorar, mas estou preso, estou mudo e seco. Eu quero tanto acertar, quero tanto que as coisas durem, mas nada dura, nada dá certo e eu fico aqui tentando, sozinho.
Não tem mingúem aí querendo brincar comigo?!
Brincar sozinho é tão chato. E eu tenho precisado dos meus amigos, tenho precisado de pessoas de verdade, mas mesmo as pessoas de verdade me parecem tão distantes que não sei o que posso fazer para isso melhorar.
Eu vou sair.
Vou ficar só.
E vou continuar andando por aí, a pé, sem um tostão no bolso, tentando me cuidar enquanto ninguém vem cuidar de mim. Tentando ser feliz apesar da vida, tentando sonhar apesar da realidade e sobrevivendo, sempre.
Essa é minha vida e não quero outra. E não troco por nada.
Sempre fui só, mas quem sabe isso muda um dia.
Eu vou sair.Mas um dia eu volto.
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